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Voto no escuro
Pesquisa Datafolha do dia 20
divulgada sexta-feira mostra
que 59% dos eleitores paulistas
ainda não sabem em quem votar para deputado federal. Nada
indica que a situação seja diferente nos demais Estados.
Trata-se de um percentual expressivo -e a imprensa tem
grande parte da responsabilidade por isso.
Seja quem for o presidente eleito, a história brasileira revela
que, sem apoio no Congresso, a
implementação de seu programa (e, portanto, do programa
em tese escolhido pela população) fica comprometida.
As disputas proporcionais, no
entanto, têm sido tratadas com
incrível desdém pela mídia. Raras reportagens enfocaram o assunto de modo a despertar nos
leitores maior interesse.
O caderno "Olho no Voto", publicado pela Folha na sexta-feira, é um instrumento valioso para os (e)leitores, e ajuda a romper esse "silêncio". Mas, até mesmo por embutir dados de desempenho apenas dos políticos já
eleitos, não resolve o problema.
Só em SP há 793 candidatos a
deputado federal e 1.572 a estadual, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No RJ, são
602 e 1.333, respectivamente. Em
MG, 554 e 923. Isso para ficar nos
maiores colégios eleitorais.
Nos principais jornais brasileiros, somente no dia 9 passado,
com o "Globo", teve início a publicação de nomes e currículos
de candidatos. O "Estado de
S.Paulo" veio atrás, dia 16.
O critério adotado por esses
jornais para a escolha dos candidatos divulgados foi o de pedir a
indicação dos partidos. Eles se limitam a seus Estados-sede.
Na Folha, a divulgação foi
inaugurada somente na segunda (23) e também se limita a SP.
Diferentemente de seus concorrentes, porém, o jornal preferiu fugir do controle das cúpulas
partidárias. Reproduz candidatos indicados por personalidades
ou representantes de entidades.
Trata-se de um critério que
tende a ser mais democrático e
qualitativamente diversificado,
mas que implica desafio maior,
principalmente se a idéia for
buscar equilíbrio político.
Nos primeiros dias, o jornal
não foi feliz em relação a isso. Na
estréia, nada menos do que sete
(58%) dos doze indicados (entre
estaduais e federais) eram do PT
e quatro (33%) do PSDB.
Até ontem, a relação mudou,
mas ainda não tão significativamente. O partido de Lula recebeu 14 (28,6%) das 49 indicações
publicadas. O de Serra, 12
(24,5%). Bem atrás vem o
PMDB, com 5 (10,2%). Veja o
quadro.
A busca da imparcialidade,
nesse caso, não reside em aplicar
na definição do espaço para os
candidatos proporcionais os percentuais de intenção de voto de
cada candidato a presidente ou
a governador, pois nada obriga o
eleitor a votar em nomes de uma
única legenda. Ela requer, portanto, divisão bem mais equânime entre os partidos.
A uma semana da votação, pode-se estimar que, mantido o ritmo atual, o jornal terá exibido
perto de cem candidatos (apenas
4% do total de SP).
É muito pouco e não compensará o quase abandono a que se
submeteu o assunto ao longo de
toda a campanha.
Que ao menos haja equilíbrio e
isenção política na divulgação.
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