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OMBUDSMAN
Guerra de informações
BERNARDO AJZENBERG
Os primeiros dias da invasão do Iraque pela coalizão
anglo-americana têm revelado
um paradoxo: ao mesmo tempo
em que nunca numa guerra tantas informações foram geradas a
partir do teatro das operações,
poucas vezes se viram tantas
contradições, tanta pista falsa ou
tentativas de manipulação.
George W. Bush enfrenta forte
oposição internacional. Saddam
Hussein não é, nem de longe, um
governante bem-visto pelo resto
do mundo. Ambos, assim, são
obrigados a travar, ao lado da
guerra propriamente dita, um
cruel embate de informações para ganhar "corações e mentes"
dentro e fora de seus países.
No centro, obviamente, está a
mídia -e seu desafio é apresentar os dados do modo mais objetivo e isento possível.
Até agora a Folha manteve
uma cobertura que contempla a
existência dessa guerra de informações -para o que contribui,
decisivamente, o fato de ter dois
enviados especiais a Bagdá.
Em busca de equilíbrio, vem
publicando, além disso, análises,
entrevistas e artigos de especialistas com visões divergentes.
As poucas queixas que recebi
sobre a questão da isenção jornalística (ou da falta dela) se referem a aspectos pontuais.
Alguns pontos, porém, merecem reflexão.
O primeiro foi a edição no alto
da capa de domingo -em parte
dos exemplares- da foto de
uma criança com o corpo queimado apresentada como vítima
da coalizão.
Vários leitores, mesmo contrários à guerra, acharam essa opção grotesca, apelativa, sensacionalista. Mais do que informar, o jornal os "agredia". Concordo com eles. A foto poderia
ter saído em página interna.
O equívoco ganhou maior proporção, depois, com a avaliação
de especialistas, a partir da imagem, de que na verdade a criança sofrera as queimaduras antes
da invasão, tendo sido usada,
portanto, como peça de propaganda enganosa por Bagdá.
Em prol da Folha, registre-se
que no domingo tomou a precaução de atribuir a informação
sobre a criança ao governo iraquiano, além de ter publicado
na segunda a avaliação dos especialistas (embora com menos
destaque do que o necessário).
O jornal também demorou para bem "explorar" a existência
de seus enviados especiais.
Na quarta-feira, por exemplo,
veículos concorrentes, mesmo
sem gente em Bagdá, deram material mais denso e detalhado
(com base em jornais estrangeiros) sobre eventos da capital
-além das informações pasteurizadas das agências de notícia.
Só na sexta o "Diário de Bagdá" (material exclusivo) ganhou
o nobre espaço da contracapa do
caderno sobre a guerra.
Em dois momentos a Folha
não soube, a meu ver, destacar
adequadamente o essencial do
que publicava de modo disperso.
Um se deu na quinta, quando
ficou claro que a coalizão, numa
guinada decisiva para o conflito,
resolvera, dada a resistência iraquiana, adiar o "assalto" a Bagdá. A manchete da Folha, nesse
dia, foi para o bombardeio que
matou 15 civis na capital
-evento relevante, claro, mas
menos determinante.
Na sexta, quando se soube que
mais 120 mil soldados norte-americanos se somariam ao conflito, a manchete foi "Bagdá volta a sofrer forte ataque" -fato
que se repetia e se repetirá.
A guerra deve ser longa. Esta
coluna, portanto, será levada a
abordar outras das várias questões que ela suscita e suscitará.
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