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OMBUDSMAN
Teoria e prática
BERNARDO AJZENBERG
Recorro mais uma vez ao
"Manual da Redação" da
Folha. Diz, na página 62, o verbete "Didatismo":
"Qualidade essencial do jornalismo e um dos objetivos básicos
do Projeto Folha. Todo texto deve ser redigido a partir do princípio de que o leitor não está familiarizado com o assunto. Explique tudo de forma simples, concisa, exata e contextualizada."
Isso é a teoria. Eis, agora, algumas práticas, consideradas apenas edições da semana passada:
1) Reportagem sobre declarações dadas a respeito da América Latina pelo economista norte-americano John Williamson, um
dos criadores do "Consenso de
Washington", não explicava o
que significa esse "consenso";
2) Relato com afirmações do
presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, nas quais
ele citava os poetas João Cabral
de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade, ambos já
mortos, não trazia aqueles parênteses com os anos de nascimento e de morte dos poetas,
dando a entender, para leitores
menos esclarecidos no assunto,
que ambos ainda vivem (ou, para os esclarecidos, que o jornal
acha que eles ainda vivem);
3) Reportagem informando
que o governo prorrogou o prazo
de inscrição para financiamento
de estudos mencionava a aplicação da Tabela Price, sem explicar o que isso quer dizer nem indicar como fazer para sabê-lo;
4) Idem para outro texto, sobre
saúde, no qual aparecia a sigla
Sars, igualmente sem registro sobre seu significado;
5) No noticiário de sexta-feira
sobre o caso de corrupção de menores em que são acusados políticos e "notáveis" de Porto Ferreira (SP), não havia nenhum
mapa a mostrar para o leitor onde fica essa cidade;
6) Ao fazer referência às chacinas da Candelária e de Vigário
Geral, no Rio, uma reportagem
sobre documento da Anistia Internacional não incluía nenhuma "memória" a respeito do que
foram esses eventos.
Um dos trunfos que diferencia
o jornal de outros meios de comunicação é sua capacidade de
permitir maior aprofundamento
de temas e acessibilidade, para o
leitor, ao conteúdo do que se está
falando (no caso, escrevendo).
Ao abrir mão disso ou ao relegar a segundo plano essa "qualidade essencial do jornalismo", a
Folha não só deixa de cumprir
aquilo que seu próprio "Manual" indica como corre o risco
de alimentar em muita gente
(em especial os mais jovens) a
sensação de que, havendo TV,
rádio e internet, o jornal impresso talvez não seja tão indispensável quanto parece.
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Bernardo Ajzenberg é o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato
de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor
-recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário
dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Bernardo Ajzenberg/ombudsman,
ou pelo fax (011) 224-3895.
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ligue (0800) 15-9000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira. |
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