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Igor Gielow
Crise de identidade
BRASÍLIA - Se futebol é espelho da tal alma da nação, e a torcida, imagem e semelhança do espírito em campo, estamos enroscados numa crise de identidade das bravas.
Tão discutido quanto o pífio desempenho dos chorões de Felipão é o que rola nas arquibancadas brasileiras na Copa. O que se dirá aqui é pouco científico, claro, como o futebol.
Há um coro geral, amplificado pela multidão de Nelsons Rodrigues da virtualidade, acusando a torcida brasileira presente em qualquer jogo de ser composta só por "coxinhas" --o reducionismo imbecil da vez; no meu tempo eram os "burguesinhos".
Alguns fatos, e escrevo ao voltar do muito bacana França x Nigéria aqui no Elefantão, digo, Estádio Nacional de Brasília. Criticam o perfil "rico e educado" já detectado pelo Datafolha, de resto condizente com plateias Fifa mundo afora, como se esses corneteiros mesmo não o fossem. Preconceito e politicagem de segunda típica dos nossos tempos.
Isso dito, é evidente um certo jeito desengonçado do pessoal no estádio. Aquele canto do "sou brasileiro com orgulho" é de uma mediocridade estupefaciente, regressiva.
Qual a alternativa? As animalidades a que estão acostumados os frequentadores de estádios, submetidos aos desejos vis das torcidas organizadas, que comem nas mãos dos cartolas? O copo com mijo, "pardon my French", que te acerta a nuca?
Xingar e brincar com os adversários é intrínseco à cultura futebolística, que emula em ambiente controlado nosso atavismo belicista. Fica então evidente esse choque que a Copa trouxe para dentro da nossa casa, e que poderia virar um verdadeiro legado: que tipo de torcedor queremos ser, e que espetáculo vamos exigir?
Não sei a resposta. Deve estar em algum lugar entre a "ola" e o copo que atingiu o argentino folgado com máscara do Messi que provocava os brasileiros ontem no estádio (ele só merecia um certo coro óbvio, que, mea culpa, engrossei).