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COM ALCA OU SEM ALCA
A visita ao Brasil de Robert
Zoellick, representante de Comércio dos Estados Unidos, encerrou-se com a perspectiva de que as
negociações para a formação da Área
de Livre Comércio das Américas (Alca) irão se alongar. A exemplo do que
fizeram os EUA, também o Brasil decidiu discutir os temas "sensíveis" na
Organização Mundial de Comércio.
Independentemente, porém, dos
recuos da agenda, o país não pode
voltar as costas para a promoção da
competitividade da indústria. Afinal,
com Alca ou sem Alca no horizonte,
o setor industrial deve preparar-se
para aumentar sua produtividade,
seja com vistas a gerar os necessários
superávits comerciais, seja para não
perder terreno em possíveis novos
processos de abertura.
As cadeias industriais brasileiras,
caso sejam expostas ao choque de liberalização que teria lugar com a implantação da Alca, se defrontariam
com uma dinâmica combinada de
benefícios e ameaças. Nenhuma delas seria exclusivamente vítima ou
beneficiária do livre comércio. Essa é
uma das principais conclusões de
um recente estudo a cargo da Unicamp (Universidade Estadual de
Campinas) em parceria com o Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio Exterior. O
trabalho não levou em conta a totalidade do setor industrial brasileiro,
mas sua extensão parece bastante representativa: foram examinadas 17
cadeias industriais, que respondem
por cerca de 53% do faturamento da
indústria, 63% das exportações e
67% das importações.
Entre os setores mais competitivos,
o estudo destaca dois grupos. O primeiro é formado por siderurgia, café, couro/calçados, celulose/papel e
sucos. O segundo, por cosméticos,
madeira/móveis e revestimentos cerâmicos. Entre os menos competitivos, inscrevem-se construção naval,
plásticos, têxteis/confecções, petroquímica e bens de capital. Um quarto
grupo, formado por veículos, equipamentos de comunicação, eletrônicos de consumo, informática e farmacêutica teria sua competitividade
muito dependente de decisões a serem tomadas pelas empresas multinacionais que atuam nesses setores.
Não cabe aqui reproduzir os detalhes da pesquisa, cuja íntegra pode
ser encontrada nos sites da universidade e do ministério. O que merece
comentário são as oportunidades de
políticas a serem empreendidas com
vistas a corrigir ou a proteger os pontos mais vulneráveis das diversas cadeias estudadas.
Um bom exemplo disso é a área de
têxteis e confecções, destacada pelo
pesquisador Rodrigo Sabbatini e pelo professor Mariano Laplane, ambos da Unicamp, em artigo que comenta a pesquisa. Alguns dos elos e
empresas desse setor estão entre os
mais competitivos do mundo, o que,
em princípio, asseguraria vantagens
na Alca. Há, no entanto, inúmeras
pequenas e médias unidades de produção têxtil e de confecções, algumas quase informais, que muito
provavelmente naufragariam se expostas aos efeitos da liberalização.
Mapeamentos dessas realidades
são úteis quando se têm em mente
objetivos de planejamento econômico. É de esperar que eles se traduzam
na formulação de políticas industriais específicas, como as que o governo tem prometido em sua retórica
sobre a "fase dois" da economia.
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