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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Cigarro: requintada poluição!
A Organização Mundial da
Saúde (OMS) conseguiu um feito
inusitado: os Estados Unidos aprovaram o texto do acordo internacional
que combate o tabagismo. O tratado
contém cláusulas contra a proliferação dos pontos-de-venda, sobre o
controle da publicidade e até sobre a
proibição da comercialização de cigarros em certos ambientes.
Os americanos resistiram à idéia durante quatro anos. Por princípio, eles
não gostam de interferir na vida das
pessoas e das empresas. Mas acabaram aceitando fazê-lo, o que facilitará
a ratificação do tratado pelo Congresso dos Estados Unidos.
Daqui para a frente, os signatários
do acordo envidarão todos os esforços
para banir o tabaco da vida humana.
Já estava na hora. O cigarro mata quase 5 milhões de pessoas, que são atingidas por doenças cardíacas, câncer e
derrames. Só nos Estados Unidos o tabagismo faz o país gastar, anualmente,
US$ 76 bilhões com tratamentos e
US$ 82 bilhões com perda de produtividade! No Brasil não é diferente. O
governo gasta no SUS (com tratamentos de câncer do pulmão, derrames e
cardiopatias) uma boa parte do que
arrecada de impostos sobre o cigarro.
Em boa hora o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso apertou os controles sobre o fumo. Oxalá o atual governo reforce ainda mais essa política.
Com a ratificação do tratado da
OMS, o mundo ganhará mais uma
ferramenta. Isso não significa que o
problema vá desaparecer da noite para o dia. Terão de ser intensificadas as
restrições ao fumo, a rotulagem sobre
os danos, a contrapropaganda etc.
Tais medidas exigem deliberação e recursos. Não é fácil. Afinal, só nos Estados Unidos as fábricas de cigarros gastam US$ 10 bilhões por ano em publicidade.
Mas não se pode desanimar. A produção e o consumo de cigarros estabilizaram-se nos últimos dez anos,
quando foram intensificadas as restrições ao cigarro.
Em estudos detalhados, os resultados são ainda mais animadores. Em
27 países que adotaram lugares especiais para fumantes, constatou-se uma
redução do consumo de cigarros da
ordem de 29% (Erik Assadourian,
"Cigarette production dips slightly",
"Vital Signs", 2003).
Isso não significa uma redução de
29% de fumantes, mas uma diminuição dos cigarros consumidos em 29%
-o que já é um grande passo.
Ratificado o tratado e iniciadas as
campanhas, é bem provável que os fabricantes de cigarros venham a inventar novas artimanhas para alimentar o
vício. Será uma luta de gigantes, que
vale a pena ser enfrentada. O valor da
vida humana está acima de qualquer
negócio.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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