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CARLOS HEITOR CONY
O governo e o poder
RIO DE JANEIRO - A desculpa mais esfarrapada que anda por aí para explicar a dicotomia entre o antigo PT e
o novo chega a ser cínica: o Partido
dos Trabalhadores, criado nos subterrâneos da resistência democrática,
coberto de glórias na luta sindical,
que logo contaminou a sociedade inteira, chegou ao governo, mas não
chegou ao poder.
Com palavras bastante parecidas,
todos os partidos que chegaram ao
governo disseram a mesma coisa, de
forma até mais radical. Vargas suicidou-se dizendo que não pudera fazer
tudo o que desejava pelo povo. FHC
pediu que o compreendessem: como
professor na oposição, ele tinha uma
visão; como presidente eleito duas vezes, fora obrigado a adotar a visão
que antes combatera.
O que está faltando ao PT, e a Lula
principalmente, é a coragem de poder. Coragem que Vargas teve, no segundo mandato, dobrando o salário
mínimo, mas nunca se dobrando ao
capital internacional, e criando a Petrobras, numa jogada de mestre, convencendo a oposição a fazer o que ele
queria.
JK foi outro que chegaria ao governo sem chegar ao poder. Bastaria
compor com a oposição, com aqueles
que lhe negavam o direito de ser presidente. Enfrentou duas rebeliões militares, foi combatido e insultado pela
quase totalidade da mídia, rompeu
com o FMI e ainda teve tempo para
dançar, cantar e se divertir, mas fez o
Brasil crescer 50 anos em cinco.
É bem verdade que Vargas se suicidou e que JK foi cassado e exilado.
Eles exerceram o poder não como governantes ou estadistas, mas como
homens. Homens, como os machistas
costumam dizer, com H maiúsculo.
Era isso o que se esperava de Lula.
Afinal, ele não foi para o governo
obliquamente, como alguns vice-presidentes, que são obrigados a herdar
um cenário criado por outro. Foram
os casos de Sarney e de Itamar, que
chegaram ao governo, mas não chegaram ao verdadeiro poder.
Se Lula e o PT acham que não chegaram ao poder, o que estão fazendo
lá em cima?
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