São Paulo, domingo, 01 de junho de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A política-vida e a cultura CLÁUDIA COSTIN
A cultura tem estado no centro
de importantes debates. Política
cultural é tema amplo, que costuma oferecer a oportunidade de verificar o
compromisso dos governos com a promoção social de seus cidadãos. Não é
meu interesse discutir critérios específicos, e sim deixar claras linhas de ação.
Minha tese é que a política cultural deve
ser encarada como instrumento de
transformação social tão poderoso
quanto os que são aplicados em áreas
como saúde e educação.
Cabe ao Estado um papel forte como formulador de uma política cultural que garanta a livre expressão da criatividade, a formação e celebração de talentos para as artes e o direito de todos a usufruir o que de mais belo e instigante a humanidade produziu. Nesse sentido, política cultural é intervenção permanente, que deve democratizar o acesso a bens culturais. Não cabe ao Estado passar a mão na cabeça de uma pequena casta de privilegiados ou julgar que a política cultural deve focar os produtores culturais, e não os cidadãos. Produtores são aliados, e não finalidade da ação pública no campo das artes. Por isso a preocupação constante com a relação custo/benefício de cada projeto, com qualidade e com indicadores claros de população beneficiada. A gestão da coisa pública se faz com a cabeça, com critérios de racionalidade estritos e rigorosos. A inclusão social é uma meta a perseguir em qualquer política pública. No campo da cultura, incluir é franquear o acesso de um número representativo de indivíduos a esse ou aquele conjunto de bens culturais. E, além disso, é construir parcerias inteligentes em iniciativas como o Projeto Guri, que contempla a formação de pequenas orquestras de crianças e jovens em situação de risco social. É lançar o programa "São Paulo: um Estado de Leitores", que estimula a leitura no maior Estado de um país que tirou o último lugar numa avaliação internacional de qualidade da educação, porque a juventude não tem o hábito de ler. É implantar o Pró-Bandas, que capacita regentes e músicos no interior, colocando inclusive partituras na internet, para agregar qualidade à vida cultural de municípios que têm, muitas vezes, nas bandas sua única iniciativa estruturada. É estimular a população a frequentar museus, teatros e cinemas, com tudo o que um Estado como São Paulo tem a oferecer. O acesso à cultura é um direito do cidadão. Biscoitos finos para a massa, pregava Oswald de Andrade. Finos ou não, populares ou não, os bens culturais têm de chegar à massa. Ela precisa testá-los, sentir seu gosto, submetê-los a seu paladar. O bem cultural é um produto do conhecimento, e é dever do Estado expô-lo a um número que se deseja cada vez maior de indivíduos. Esse ato de democratização do acesso a bens culturais possui um caráter tão transformador quanto o de construir um hospital ou uma escola. Uma das formas mais legítimas de combate à violência está na inclusão cultural. A cultura tem de se aproximar do cidadão comum, iletrado ou pouco letrado. É a política-vida de Giddens direcionada à cultura. É a política-vida de um governo efetivamente comprometido com a inclusão social. Cláudia Costin, 47, mestre em economia pela Escola de Administração da FGV-SP, é secretária da Cultura do Estado de São Paulo. Foi ministra da Administração Federal (governo Fernando Henrique). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Roberto Leal Lobo e Silva Filho: A redescoberta de Cristovam Índice |
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