São Paulo, domingo, 01 de junho de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A redescoberta de Cristovam ROBERTO LEAL LOBO E SILVA FILHO
Em recente manifestação, o ministro da Educação, Cristovam
Buarque, a fim de viabilizar sua intenção de utilizar um exame nacional, ao final de cada série do ensino médio, para
servir de subsídio à seleção de estudantes para o ensino superior, propôs reduzir o âmbito desse mesmo exame unicamente às disciplinas de português e matemática.
No Brasil, o ensino da matemática seguiu a tendência mundial que tomou corpo na virada do século 20, saltando de uma visão quase experimental e intuitiva, em que seus objetos eram considerados como parte da descrição do mundo real e presentes na natureza, para uma postura formalista, com ênfase no simbolismo e na lógica matemática. Foi a famosa "matemática moderna" que invadiu nossas escolas. Essa visão sofisticada e desligada dos fatos práticos entrou fortemente no ensino da matemática, sem a correta compreensão dos professores. Em vez de tentarem entender a aritmética e a geometria, era a teoria dos conjuntos o grande desafio que nossos professores tentavam, em vão, assimilar. Como ensinar, sem recorrer à mera memorização, a solução de equações do segundo grau, o significado de suas raízes e de sua existência? Sem saber a resposta, a preocupação era ensinar como descrever o conjunto de soluções na grafia adequada. E lá se foi nossa matemática. Num nível superior, a enxurrada de teoremas, sem motivação e sem explicações de suas limitações e dos caminhos para entendê-los, ajudou a criar professores incapazes de ver o que é simples e de transmitir a verdadeira forma de criar no mundo da matemática. Apresentados a esse formalismo árido, que se converteu, na prática, em decorar fórmulas e teoremas, o aluno brasileiro e o da maioria dos outros países fugiram da matemática. É preciso repensar o ensino de matemática, mudando sua forma de apresentação primeiramente a nossos professores, para que eles possam ensinar nossos filhos. Roberto Leal Lobo e Silva Filho, 64, doutor em física pela Universidade de Purdue (EUA), é diretor da Lobo e Associados Consultoria e Participações. Foi reitor da USP (1990-93) e da Universidade de Mogi das Cruzes (1996-99). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Cláudia Costin: A política-vida e a cultura Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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