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CLÓVIS ROSSI
O cassino e os BCs
PARIS - Os banqueiros centrais do
planeta finalmente descobriram a
pólvora, embora com fenomenal
atraso. O relatório anual do BIS
(Bank of International Settlements, mais conhecido como o banco central dos bancos centrais) percebeu que a economia mundial está
em situação "crítica". É verdade
que os banqueiros dizem "talvez
crítica", o que não deixa de ser um
tributo que o vício da moderação
excessiva presta à virtude de aceitar
os fatos como são.
O BIS reconhece também que o
que chama de "certas mutações financeiras" tiveram "efeitos secundários lamentáveis". Critica o surgimento de "empréstimos de qualidade cada vez mais medíocres, que
depois foram vendidos a investidores crédulos".
Todo esse linguajar meio cifrado
é para dizer que o cassino em que se
transformou boa parte do jogo financeiro no planeta chegou ao pico
com as tais hipotecas "subprime",
que estão causando "as turbulências atuais nas principais praças financeiras", e que "não têm precedentes no pós-guerra" (ou seja, desde 1945).
Pergunta o BIS: "Como pôde desenvolver-se um sistema bancário
paralelo tão importante sem que as
autoridades expressassem claramente suas preocupações?"
Como é mesmo? Os bancos centrais não são autoridades? Não cabe
a eles, precisamente a eles, supervisionar os bancos? Esse pessoal ficou assistindo da arquibancada todas as apostas no cassino que agora
chamam de "sistema bancário paralelo". Quando a banca quebrou ou
tomou um baita prejuízo, aí as autoridades, que eram espectadoras, resolvem fazer às vezes de colunistas
de jornal e criticar o que não vigiaram quando deveriam fazê-lo.
Não seria mais honesto aceitar
que são também culpados e, melhor
ainda, pensar em adotar regulações
que pelo menos ponham alguma
ordem no cassino?
crossi@uol.com.br
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