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CÍRCULO VICIOSO
O modelo macroeconômico,
adotado desde a desvalorização do real, em janeiro de 1999, continua revelando seus limites. A política econômica foi ancorada em três
pilares fundamentais: taxa de juro
elevada (16% ao ano) para atingir a
meta de inflação de 5,5% em 2004;
superávit fiscal (excluindo juros) de
4,25% do PIB para conter a explosão
da dívida pública (56% do PIB); taxa
de câmbio flutuante, com livre mobilidade dos capitais, a fim de fechar as
contas externas.
Esses pilares têm funcionado mais
para assegurar a estabilização da
economia do que para fomentar a
produção e o investimento, numa dinâmica apelidada de "vôo da galinha": crescimento baixo e de curta
duração. Os surtos de expansão recentes foram abortados pelo "apagão" da energia, em 2001, por restrições do setor externo, em 2002, e pelas taxas de juros elevadas, em 2003.
Agora, quando a economia doméstica começa a emitir sinais de reaquecimento, o Comitê de Política Monetária do Banco Central traz à cena elementos que podem significar um
novo pouso forçado. Para os membros do Copom, as perspectivas da
inflação apontam para o descumprimento da meta de 2005, de 4,5%, razão pela qual a Selic será mantida em
16% ao ano por tempo "prolongado". Além disso, sugerem que podem "adotar uma postura mais ativa", possibilidade que já inaugurou
no mercado a temporada de apostas
sobre o momento em que ocorrerá
uma nova elevação dos juros.
O regime de metas de inflação, em
sua forma atual, restringe o dinamismo econômico. As tarifas públicas
indexadas carregam a memória das
elevações de preços passadas e exigem, como compensação, deflação
dos preços livres da economia. Com
a recuperação dos setores domésticos, no entanto, os empresários procuraram repassar alguns custos (matérias-primas, petróleo etc.) e recuperar suas margens de lucros.
Se as pressões inflacionárias persistem, o Copom precisa elevar a taxa
de juros para conter o crescimento
econômico. Instaura-se um círculo
vicioso, pois os juros aumentam a dívida, o que requer ampliação do superávit fiscal e da carga tributária,
medidas que, por sua vez, desestimulam o setor produtivo. A repetição desse processo seria desastrosa.
Mais uma vez, o país perderia a oportunidade de acompanhar um ciclo de
expansão internacional.
A coordenação das expectativas deveria ir no sentido oposto ao enunciado pelo Copom. É preciso apontar
na direção do estímulo ao investimento privado nas cadeias produtivas que enfrentam gargalos e da ampliação da infra-estrutura instalada
-e não introduzir o pessimismo,
com ameaças de endurecimento da
política monetária para tentar minimizar as expectativas inflacionárias.
Se o setor privado espera que as autoridades monetárias possam em breve bloquear o dinamismo da economia, a tendência é de redobrar a cautela na decisão de investir -e o país
permanece estagnado.
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