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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Educação: prioridade nš 1 da nação
A publicidade feita pela ONU
do Relatório do Desenvolvimento Humano 2004 gerou muita polêmica no Brasil, em especial no que tange
à situação da educação. Muitos argumentaram que a utilização dos dados
do Censo de 2000 pioraram o quadro
educacional do Brasil, que poderia ser
melhor espelhado por estatísticas
mais recentes.
Deixando de lado a controvérsia
metodológica, ninguém pode ficar satisfeito com a educação da nossa população. É verdade que tivemos avanços significativos nos últimos dez
anos: caiu a taxa de analfabetismo e
subiu o número de crianças matriculadas nas escolas. Mas isso está longe
das nossas necessidades quando se
considera a trajetória da economia
globalizada na nova sociedade de conhecimento.
Hoje em dia, um brasileiro jovem
entra no mercado de trabalho com
seis anos de escola, sendo que a média
da força de trabalho, considerando-se
todas as idades, é de apenas 4,5 anos
de escola. Isso é muito pouco quando
se considera a média de 11 anos que
prevalece nas nações mais ricas e de
oito anos que caracteriza os países de
desenvolvimento médio.
Para competir em pé de igualdade, o
Brasil precisaria estar formando todos
os jovens no ensino médio. Essa é a
conclusão de um recente estudo comparativo ("Brasil Justo, Competitivo e
Sustentável", Banco Mundial, 2002).
O trabalho revela que o aprendizado
das crianças brasileiras está aquém do
esperado e do necessário em uma economia crescentemente competitiva.
O maior desafio do Brasil continua
sendo a melhoria do ensino na sala de
aula. Nesse campo, os pesquisadores
do Banco Mundial citam experiências
bem-sucedidas realizadas, por exemplo, na Índia, na China e no Chile. Tais
países colocaram força total na melhoria dos professores e das escolas ao
longo de dez anos, o que produziu
uma mudança expressiva na qualidade do ensino e na aprendizagem das
crianças.
Já passamos da época de aplaudir a
matrícula das crianças nas escolas. Isso é necessário, sem dúvida, mas está
longe de ser suficiente. O Brasil está
muito atrasado nesse campo. Os cursos para a formação de professores estão vazios. Faltam 250 mil mestres para o ensino médio. As condições das
escolas e das bibliotecas continuam
precárias.
Nem sempre é a escassez de recursos
que responde por tais deficiências. Há
poucas semanas, a imprensa divulgou
que o Ministério da Educação tinha
cerca de 11 milhões de livros estocados
em armazéns precários, quando esses
livros deveriam estar nas mãos dos
alunos. Isso é um escândalo!
Igual gravidade tem a burocracia excessiva, que continua consumindo
mais de 50% das verbas públicas para
a educação. A diferença de recursos
que saem de Brasília e chegam às salas
de aula é monumental e inaceitável.
O mais fundamental, portanto, é a
melhoria substancial da qualidade dos
professores e das condições em que
trabalham. Isso exige um esforço de
mobilização nacional, com muita deliberação e sem interrupções. É a cruzada que está faltando para o Brasil dar o
salto que precisa em matéria de educação. Só educando venceremos.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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