São Paulo, domingo, 01 de agosto de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

De queijos e cigarros

RIO DE JANEIRO - Na crônica de ontem, usei uma expressão que parecia exagerada. Disse que o Estado -o nosso- estava bichado. Falava de laranjas e arapongas, que fazem da administração pública, sobretudo no setor da economia e das finanças, uma espécie de queijo suíço, cheio de buracos.
É bem verdade que, no caso do queijo, já me garantiram que quanto mais buraco, melhor é o produto. No caso de um Estado, parece que é diferente. Como se não bastasse, além de bichado ele está fatiado. Foi o que li, na semana passada, na matéria sobre a venda de ingressos para um show que ajudaria as burras do PT, necessitado de uma sede à altura de seu status governamental.
No olho do furacão, o Banco do Brasil revelou-se "fatiado" -foi o que li nos jornais. Por extensão, toda a máquina administrativa, como um grande butim, ou um enorme queijo suíço, ficou dividida de tal forma que o comando geral, por mais competente e esforçado que seja, ignora o que as parcelas estão fazendo, comprando ou vendendo.
Nem se trata da banal fuga da responsabilidade. Como pode um alto funcionário do primeiro escalão, um ministro por exemplo, imprimir um programa de ação, estabelecer prioridades, administrar, em suma, se os cargos periféricos operam com autonomia bastante para beneficiar partidos ou empresas responsáveis por sua indicação?
Os ingressos comprados pelo banco oficial para um show que ajudaria um partido a construir sua sede não chegam a constituir um escândalo, aparentemente não provam desonestidade de ninguém, revelam apenas que o monstruoso animal do Estado caminha meio drogado.
Não é nova a constatação de que o PT tenta partidarizar o governo. Já conseguiu essa meta em diversos setores, e somente não atingiu a plenitude de sua ambição porque tem de dividir migalhas com a "base".
Bichado, fatiado como um queijo, o poder ficou também baseado, como certos cigarros suspeitos.


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