|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
De queijos e cigarros
RIO DE JANEIRO - Na crônica de ontem, usei uma expressão que parecia
exagerada. Disse que o Estado -o
nosso- estava bichado. Falava de
laranjas e arapongas, que fazem da
administração pública, sobretudo no
setor da economia e das finanças,
uma espécie de queijo suíço, cheio de
buracos.
É bem verdade que, no caso do
queijo, já me garantiram que quanto
mais buraco, melhor é o produto. No
caso de um Estado, parece que é diferente. Como se não bastasse, além de
bichado ele está fatiado. Foi o que li,
na semana passada, na matéria sobre a venda de ingressos para um
show que ajudaria as burras do PT,
necessitado de uma sede à altura de
seu status governamental.
No olho do furacão, o Banco do
Brasil revelou-se "fatiado" -foi o
que li nos jornais. Por extensão, toda
a máquina administrativa, como um
grande butim, ou um enorme queijo
suíço, ficou dividida de tal forma que
o comando geral, por mais competente e esforçado que seja, ignora o
que as parcelas estão fazendo, comprando ou vendendo.
Nem se trata da banal fuga da responsabilidade. Como pode um alto
funcionário do primeiro escalão, um
ministro por exemplo, imprimir um
programa de ação, estabelecer prioridades, administrar, em suma, se os
cargos periféricos operam com autonomia bastante para beneficiar partidos ou empresas responsáveis por
sua indicação?
Os ingressos comprados pelo banco
oficial para um show que ajudaria
um partido a construir sua sede não
chegam a constituir um escândalo,
aparentemente não provam desonestidade de ninguém, revelam apenas
que o monstruoso animal do Estado
caminha meio drogado.
Não é nova a constatação de que o
PT tenta partidarizar o governo. Já
conseguiu essa meta em diversos setores, e somente não atingiu a plenitude de sua ambição porque tem de
dividir migalhas com a "base".
Bichado, fatiado como um queijo, o
poder ficou também baseado, como
certos cigarros suspeitos.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Os pilotos sumiram Próximo Texto: Antônio Ermírio de Moraes: Educação - prioridade nš 1 da nação Índice
|