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RETRATO DA REVIRAVOLTA
Uma subida de José Serra nas
pesquisas eleitorais era uma
hipótese que não estava descartada
do cenário sucessório que se avizinhava com a entrada da propaganda
eleitoral no rádio e na TV. A chapa tucano-peemedebista tem uma vantagem grande de exposição no horário
eleitoral em relação às suas concorrentes e, afinal, conta com o peso político de ser a herdeira de oito anos de
governismo. A surpresa, confirmada
pela pesquisa do Datafolha publicada hoje, foi a contundência da reação
do tucano. A diferença entre José Serra e Ciro Gomes, que há duas semanas era de 14 pontos percentuais, diminuiu para apenas um.
A convergência dos dois presidenciáveis para a faixa dos 20% das intenções de voto foi praticamente simétrica: Ciro Gomes caiu sete pontos percentuais (de 27% para 20%);
José Serra ascendeu seis (de 13% para
19%). Trata-se de mais uma evidência de que as duas chapas disputam
uma fatia do eleitorado semelhante.
Já o petista Luiz Inácio Lula da Silva
(tendo se mantido com 37%) parece
por ora imune ao calor da disputa.
O movimento quase instantâneo
que recolocou José Serra na disputa
do segundo lugar é condizente com a
tese de que o eleitorado reage diferentemente às pesquisas de opinião
conforme o desenrolar da campanha. Como esta Folha já afirmara em
editorial, a entrada do processo sucessório em sua fase final ajudaria a
descortinar a verdadeira herança que
cada candidatura trazia da pré-campanha. Não se mostrou sólido todo o
crescimento alcançado por Ciro Gomes; e o patamar de José Serra estava
como que "subnotificado".
Mas a identificação simultânea,
por parte da massa do eleitorado, das
principais candidaturas em disputa
não parece bastante para explicar a
reviravolta no quadro sucessório. Algum efeito também deve ter surtido a
estratégia da candidatura de José Serra de empreender contra Ciro Gomes uma campanha "negativa", tentando associar a imagem do ex-governador do Ceará à truculência e à
inconsistência.
A questão agora é saber em que
ponto irão parar os movimentos de
ascensão de José Serra e de queda de
Ciro Gomes. A candidatura da Frente Trabalhista, ao que consta, deve
adotar o mesmo tipo de estratégia de
que se valeu a propaganda da chapa
governista -o ataque ao adversário.
No plano político, deve ficar em
suspenso uma movimentação que já
começava a existir, de figuras de um
certo "establishment" conservador
migrando para a chapa de Ciro Gomes, através da mediação de políticos como Tasso Jereissati e Jorge
Bornhausen. Um ramo da centro-direita sedento de governismo, se
mantiver a prudência que sempre o
caracterizou, vai aguardar uma definição mais clara sobre o segundo lugar e a passagem para o turno final.
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