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SOMBRAS SOBRE 2003
O final do terceiro trimestre de
2002 chega sob a marca da desaceleração da atividade econômica e
da piora nos indicadores financeiros
internos e externos do Brasil.
A especulação cambial e as oscilações da campanha eleitoral praticamente monopolizam as atenções.
Mas já é possível antever lenta e decisiva acumulação de sombras sobre o
cenário econômico de 2003.
A situação como um todo é complicada pela desaceleração da economia mundial, sobretudo pela fragilização da confiança nos rumos da
economia norte-americana.
Sobre esse pano de fundo, a herança do governo FHC é um Estado com
as finanças alquebradas e uma economia cuja condição paradoxal de
sobrevivência é manter-se anêmica.
O ajuste recessivo e a contenção das
despesas públicas são condições para que a economia produza os saldos
no comércio exterior sem os quais a
escassez de dólares levaria o país a
uma situação de emergência. Para
não quebrar, não pode crescer.
Nos últimos dias houve uma redução da turbulência nos mercados
cambiais. Findo agosto, o dólar caiu
cerca de 12% diante do real.
Essa relativa calmaria, no entanto,
não pode ser confundida com recuperação da moeda brasileira. Parece
mais razoável interpretar o movimento recente como a correção dos
exageros de pessimismo.
Uma autêntica recuperação da confiança, no entanto, dificilmente virá
no curto ou mesmo no médio prazo.
O ciclo político favorece essa projeção. O governo FHC vem produzindo medidas cujos custos recairão sobre o próximo presidente.
O mais provável é que o futuro ocupante do Planalto, seja quem for,
passará a primeira metade do seu
mandato gerenciando a contenção
de despesas, buscando a recuperação de receitas e até evitando um
crescimento excessivo da economia.
Os riscos de crescer demais começam pelo setor energético, cuja crise
também envolve dimensões internacionais, mas passa pelo desequilíbrio financeiro crescente no setor
elétrico e também nos derivados de
petróleo.
No setor elétrico, a crise é tão profunda que algumas das empresas já
cogitam a venda de suas bases no
país. Investimentos no setor são uma
hipótese ainda mais remota.
Por enquanto, o governo faz o que
pode para adiar reajustes de tarifas,
mas o próprio Banco Central estima
em 20,7% a alta da energia em 2003.
A gasolina está sem reajuste nas refinarias desde junho. O petróleo subiu
31,4% no mercado mundial desde 31
de dezembro, e o governo optou por
segurar o repasse aos preços pelo
menos até o fim das eleições.
O orçamento público estará a partir
de 2003 sob o impacto da exaustão
de fontes extraordinárias de arrecadação. Na programação para o ano
que vem o governo já indica uma
queda real de receitas de 2,1% e de
3,5% nas despesas e corta em termos
reais os investimentos públicos (excluindo educação e saúde) em 10,6%.
De volta à macroeconomia, a superação de uma fase de especulação
cambial mais intensa não tem produzido prognósticos de valorização
do real. O relaxamento das metas inflacionárias já reflete um realismo
das autoridades monetárias, fruto da
percepção de que o financiamento
externo será difícil por bom tempo.
A superação momentânea do pessimismo especulativo não autoriza
esperanças de uma rápida recuperação econômica. A política econômica implantada com o Real exauriu-se. A conta de mais essa experiência
mal começou a ser cobrada.
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