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ELIANE CANTANHÊDE
O novo mundo
JOHANNESBURGO - A sensação que se tem ao comparar a Eco-92, do Rio
de Janeiro, e a Rio +10, em Johannesburgo, é que a cruzada ambientalista
andou para a frente e o mundo andou para trás.
Antes mesmo do início da conferência, já soava estranho o grito do ministro do Meio Ambiente, José Carlos
Carvalho. Ele nem se iludia com
avanços, só pensava em impedir retrocessos. E estava coberto de razão.
É tudo o que se faz por aqui.
Em 1992, o mundo assistia, inebriado, ao fim da Guerra Fria e à queda
do Muro de Berlim. O tempo de prisões políticas e torturas já se esgotara
na América Latina. Os temas politicamente corretos eram a preservação
da natureza e o combate à pobreza.
O ambiente, pois, era perfeito para
um enorme avanço: o conceito universal de "desenvolvimento sustentável", unindo os interesses do crescimento econômico à salvação do ar,
do mar, dos rios, da biodiversidade.
Passados dez anos, o valor da preservação da natureza se embrenhou
pelos países e por milhões de consciências em todo o mundo, mas a pobreza resiste cruel e cortante. Porque
só o desenvolvimento sustentável, enquanto conceito, não rompeu a barreira da ganância e da má distribuição de renda. O que só se agrava com
a tal globalização.
A Rio +10, portanto, é uma tentativa de resgatar valores da Eco-92 e de
estabelecer metas para que cada país
assuma a sua responsabilidade. E
uma oportunidade para atualizar o
ambiente de discussão, hoje centrado
nas finanças, na economia, no comércio. No novo milênio, o "muro de
Berlim" é entre regiões, países e pessoas. Ou, para usar uma expressão
adequada ao cenário: o apartheid é
social e global.
A boa notícia é que a Rio +10 tem o
fantástico poder de multiplicar idéias
e de cutucar culpados. E a má é que,
sem avançar na questão da economia, dos recursos, da tecnologia, nada feito. Só faltam quatro dias para o
resultado, pois a festa acaba na quarta-feira. Depois, é esperar a Rio +20.
Quem sobreviver verá.
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