|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Abra o olho, Brasil!
Nos dias de hoje, a distância cultural que separa o Brasil do continente africano é bem maior do que a
distância geográfica. Apesar de termos afinidade com vários países da
África, o volume de informações que
aqui chega é limitado e truncado.
A realização da reunião sobre o desenvolvimento sustentado na África
do Sul é uma oportunidade para explorar o desconhecido e verificar que,
ao lado de tanta pobreza, a África continua sendo ambicionada pelos seus
recursos naturais, em especial pelo petróleo, pelos minerais, pela madeira e
pelas pedras preciosas.
A colonização dos países africanos
foi marcada pela impiedosa exploração desses recursos. Inglaterra, França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Itália
e outras nações da Europa pilharam o
que puderam, deixando para trás povos famintos e países destroçados.
A gula pelos recursos não acabou.
Afinal, o continente possui 7% do petróleo e 8% do gás do mundo. São volumes imensos. No caso do petróleo,
chega a 75 bilhões de barris.
As empresas estrangeiras estão pesquisando intensamente o subsolo e o
mar africanos. Novas jazidas são descobertas a cada dia. Em 2020, a África
terá 11% do petróleo do mundo. Isso é
mais do que o Irã e o Iraque somados
(Michael T. Klare, "Resources Wars",
Henry Holt and Company, Nova
York, 2002).
Ao lado do "frenesi" dos técnicos e
cientistas, os estrangeiros mobilizam
também os seus corpos diplomáticos
e militares. Para quê? Eles sabem que o
futuro será marcado por uma disputa
acirrada entre eles. A Companhia de
Petróleo da China juntou-se a empresas do Canadá para explorar a todo o
vapor as reservas do Sudão. A Texaco
dos Estados Unidos investe pesadamente na costa da Nigéria. A Exxon
comprou direitos de exploração no
subsolo e no mar de Angola, do Chade
e do Congo-Brazzaville.
Na verdade, a luta comercial já começou e constitui um mero prelúdio
da violência e dos conflitos que ocorrerão na região. Até o momento, tais
conflitos se limitaram a guerras intestinas entre grupos locais de nações ricas em recursos e pobres em democracia. Mas, em pouco tempo, as grandes potências estarão se confrontando
pela hegemonia da exploração dos
preciosos recursos.
Será mais um desastre na história
daqueles povos sofridos. De um modo
geral, as instituições africanas são frágeis. Os mecanismos de defesa continuam incipientes. Os governos que fizeram a independência ainda lutam
para chegar à liberdade. Enfim, o terreno é fértil para uma conflagração
com vistas a novas apropriações de riquezas que, no passado, foram fatiadas entre os "civilizados" colonizadores europeus.
Qual é a lição para nós? Muito simples. Um país tão rico como o Brasil
corre o risco de entrar no foco das
mesmas ambições. Para sustentar o
desenvolvimento, precisamos de instituições fortes, de justiça amadurecida e de governantes capazes -para
defender o progresso do povo. E é
bom saber que muitos dos que gritam
em Johannesburgo contra a depredação da natureza são joguetes dos que
planejam levar para os países mais ricos os recursos dos países pobres. A
África é o exemplo mais eloquente.
Abra o olho, Brasil!
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: JK e FHC Próximo Texto: Frases
Índice
|