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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
A guerra dos grampos
"Maldita hora em que mandei
colocar uma extensão no
quarto da minha empregada. Perdi o
sossego. Quando falo ao telefone, não
sei se os ruídos são dos grampos ou da
doentia curiosidade da Geralda."
Foi dessa forma que a Joaninha, minha velha companheira de escola, começou a conversa ao me telefonar na
sexta-feira. A princípio achei que estava sonada (ela que não me leia...), mas,
depois, percebi uma ponta de presunção. Há tanta gente importante sendo
grampeada que ela gostaria de estar
no meio dessa chamada elite...
Mas a razão do telefonema foi outra.
O intróito foi apenas um jogo de cena.
Na verdade, ela queria criticar o artigo
que publiquei nesta coluna no domingo passado, em que, no final, definia o
Brasil como um lugar seguro e que poderia atrair os turistas internacionais
que hoje temem o terrorismo e a guerra que assolam outros países.
Com "O Globo" em punho aberto
na página policial, a Joaninha foi me
desafiando.
"Onde você viu segurança neste
país? A nossa mais bela cidade, Rio de
Janeiro, às vésperas da grande safra de
turistas (Carnaval), está sitiada por
traficantes, ladrões e assassinos, que
metralham lojas à luz do dia e incendeiam ônibus urbanos, queimando
até mesmo uma senhora de 70 anos,
que, por sofrer de artrose, não teve
condições de fugir das chamas e acabou morrendo no hospital. Isso é lugar seguro?"
Tive de vestir a carapuça... O que está acontecendo no Rio de Janeiro é um
absurdo. Os seres humanos estão destruindo as maravilhas que Deus nos
deu e, com isso, espantando uma preciosa fonte de renda e de empregos.
Não tem cabimento transformar a cidade maravilhosa numa praça de
guerra, na qual os saques e ataques são
comandados por um meliante que diziam estar encarcerado em uma prisão de "segurança máxima".
Tive de concordar com a Joaninha e
dizer que dias melhores virão, que o
Brasil conseguirá superar essa crise e
que as belezas continuarão aqui.
Mas ela não parou. E disse: "A insegurança não vem só de bandidos que
usam metralhadoras. Quando se lê
nos jornais que um parlamentar vende habeas corpus para traficantes de
drogas, vê-se que o esquema é mais
forte do que se pensa. Onde está a nossa segurança jurídica?".
Ponderei que esse parlamentar renunciou ao mandato, perdendo o foro
privilegiado, o que facilitará a ação da
Justiça para apurar os fatos e, se for o
caso, condená-lo.
Mas ela não se conformou. Disse
que foi o único caso na história em
que um político renunciou pela mesma razão por duas vezes num período
de apenas 41 dias e que vai se candidatar a um novo cargo eletivo no ano
que vem.
Aconselhei a Joaninha a ter paciência e, se possível, a escolher o baile da
saudade onde poderá comemorar o
Carnaval com seus pares, longe das
drogas e das metralhadoras. Ela ficou
furiosa com a brincadeira, especialmente porque ouviu uma estrondosa
gargalhada da Geralda, que estava no
outro lado da linha...
Desejo a todos um bom Carnaval.
Ou o Brasil acaba com os grampos e a
violência, ou eles acabam com o Brasil...
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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