São Paulo, domingo, 02 de março de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES O câmbio nos tempos do real
ROBERTO GIANNETTI DA FONSECA
Diante do iminente risco de desvalorização adicional do real, as empresas com obrigações em moeda forte passaram a demandar crescentes volumes de hedge cambial, o que, como numa profecia auto-realizável , acabou acelerando a queda do real no mercado de câmbio. Debateu-se então se, para defender o real e satisfazer a demanda de hedge pelo mercado, deveria o BC atuar diretamente no mercado de derivativos ou, alternativamente, emitir títulos da dívida pública interna denominados em dólares. Sem argumentos convincentes, a diretoria do Banco Central à época decidiu pela emissão maciça de títulos em dólares, chegando a dolarizar cerca de 40% de nossa gigantesca dívida interna. Pois bem, não bastasse isso, ainda se estabeleceu para parte desses títulos o período de vencimento entre setembro e outubro de 2002, ou seja, em pleno pleno período eleitoral, quando era previsível que o ambiente especulativo estaria fervendo. E, para completar, avisou-se ao mercado, num espírito de ingênua transparência, que tais títulos não seriam rolados, mas liquidados no vencimento. Foi o convite que faltava para que os insaciáveis operadores de plantão puxassem a Ptax (a taxa de câmbio média do dia anterior ao vencimento dos títulos) às alturas. A meu ver, tem faltado recentemente ao Banco Central uma gestão mais perspicaz e habilidosa do câmbio, não no sentido de intervir de forma perversa, determinando cotações irrealistas, como as que criticamos severamente nos tempos da sobrevalorização cambial, durante o primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas sim desmontando as posições especulativas que recorrentemente o mercado vem impondo, gerando nestes últimos meses uma clara subvalorização do real, como também uma volatilidade cambial que tem sido o sonho dos operadores de mesas de câmbio. Sem querer ser pretensioso, corro o risco de afirmar que a solução para impedir essa especulação cambial é muito simples e já foi aplicada pelo próprio BC no início dos anos 90, quando, pela primeira vez na história recente, a flutuação cambial foi introduzida na economia brasileira. Trata-se, em primeiro lugar, de tornar sigilosa a posição líquida que o Banco Central deseja operar a cada dia. Afinal, jogador de truco que se preze não mostra suas cartas para o adversário. Até porque o direito de blefe deve ser recíproco, e quem não blefa no jogo cambial dificilmente ganha. Pois bem, para manter o sigilo, somente o presidente e o diretor responsável, a cada manhã, deveriam decidir quanto estaria disponível em reservas para a mesa de câmbio do BC operar no mercado. Seriam criadas duas mesas de câmbio, que, incomunicáveis entre si, receberiam ordens simultâneas de compra e de venda de dólares em valores múltiplas vezes superiores ao valor líquido acordado para o dia. O mercado, sem saber a posição do Banco Central e confuso com as simultâneas ordens de compra e venda, dificilmente conseguiria arbitrar a taxa como vem fazendo. Se é para mudar que o governo Lula foi eleito, fica minha sugestão para a gestão cambial, vinda de quem assiste com tristeza ao BC levando goleada. Basta de volatilidade excessiva e de especulação permanente. O câmbio deve ser flutuante, mas nem tanto. Roberto Giannetti da Fonseca, 53, economista e empresário, é coordenador do Conselho de Comércio Exterior do Estado de São Paulo. Foi secretário-executivo da Camex (2000-2002). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Giovanni Guido Cerri: Uma nova política para os HUs Índice |
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