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MARCOS NOBRE
Pré-sal e pós-Lula
HOJE É DIA de pré-sal, essa
palavra estranha que se firmou de vez no vocabulário
cotidiano. Mais um dia de discussão sobre o que fazer com o "bilhete premiado" das reservas de petróleo. Uma discussão que está longe de ser simples. As descobertas
surgiram quando o Brasil se acostumou a chamar álcool de etanol e
se estabeleceu como referência internacional da produção de combustíveis renováveis. Há dúvidas
sobre a real extensão das reservas,
a forma das concessões de exploração, a qualidade do óleo e a tecnologia e os recursos necessários para
extraí-lo.
Lula foi rápido ao dizer e repetir
que essa riqueza tem de servir à reparação de injustiças históricas,
tem de servir à educação e aos mais
pobres. A reação veio com ares de
bom senso: não colocar o carro à
frente dos bois; saber primeiro de
onde virá o dinheiro para a exploração; o óleo só vai começar a aparecer lá por 2012; aplicar em educação pode produzir inflação -e
assim por diante.
São pontos importantes, ainda
que não seja tarefa fácil separá-los
dos interesses de companhias petrolíferas e do mercado financeiro.
Mais importante ainda, não têm
nada a ver com o que Lula disse.
A disputa é, na verdade, sobre o
que discutir. É claro que "como"
explorar as reservas é decisivo.
Mas o "para quem" é pelo menos
tão importante quanto. E muitos
dos argumentos do "como" pretendem desqualificar a discussão do
"para quem" como prematura ou
intempestiva.
Durante o período FHC, a oposição não foi capaz de influenciar a
agenda do Plano Real, apenas de
bloqueá-la em alguns pontos. O interessante do momento atual é que
a oposição consegue pontualmente
modificar a pauta que o governo
Lula busca estabelecer. Mais interessante ainda, a disputa pela agenda não está mais centrada no sistema político, mas se põe hoje em um
debate público pelo menos um
pouco mais amplo e plural.
Claro que isso se dá também porque o atual governo tem uma base
de sustentação política muito mais
precária do que o de FHC e depende em grande medida da popularidade do presidente. Mas é um
avanço democrático que não deve
ser desprezado.
O esforço de Lula é o de projetar
a sua agenda para além de seu governo. Tendo clareza de que nenhuma das chamadas "reformas"
(política, tributária, trabalhista)
será aprovada até o final do seu
mandato, procura fixar posições
para tentar orientar os debates futuros. No mesmo sentido são impulsionados hoje temas como os
direitos de mulheres e indígenas e
a discussão sobre a tortura durante
a ditadura militar. E, claro, o "para
quem" do pré-sal.
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna.
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