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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Um grande desafio à ciência!
Está de volta o debate sobre os
transgênicos. Agora, a discussão
começa a girar em torno do projeto de
lei que o Poder Executivo prepara para dar uma solução definitiva ao que
foi acomodado por uma medida provisória.
O assunto é estritamente científico.
O que se quer saber, afinal, é se os produtos geneticamente modificados
prejudicam ou não a natureza e os seres humanos.
Milhares de pesquisas foram feitas
para decifrar esse enigma. Em artigo
anterior, citei dezenas delas, realizadas pelos mais renomados cientistas
do mundo, dizendo não haver confirmação de que tais produtos prejudiquem a saúde ou o ambiente ("A vitória do bom senso", Folha, 28/9). Na
última sexta-feira, o Food and Drug
Administration concluiu que até mesmo o leite e a carne de animais clonados são seguros para a saúde humana
("New York Times", 31/10).
É claro que cada produto tem de ser
analisado individualmente. Foi para
isso que o governo brasileiro criou
um colegiado multidisciplinar, composto por 36 membros, para, entre
outras coisas, dar pareceres técnicos
conclusivos sobre a situação de plantas e animais em cada região do país
-a CTNBio.
As conclusões dessa agência sobre
produtos geneticamente modificados
têm coincidido com a esmagadora
maioria das opiniões dos cientistas do
resto do mundo. Em suma, o Brasil
está cientificamente bem calçado nessa área.
Ocorre que nem sempre as conclusões dos cientistas agradam aos burocratas. Estes sofrem pressões e carregam idéias de natureza pessoal, corporativa, política e ideológica, apesar
de não estarem aparelhados para desenvolver e construir teorias que possam desmentir a ciência -aliás, esse
não é o seu ofício.
Todavia, valendo-se do poder que
têm, os burocratas tomam decisões
que acabam estimulando, inibindo ou
impedindo o uso de produtos transgênicos no país.
Por notícias de imprensa -que espero não sejam confirmadas pelo governo-, diz-se que o referido projeto
de lei dará aos cientistas a competência de reprovar produtos que acharem inseguros, mas não a de aprová-los quando julgarem seguros. Esta decisão ficaria para um outro colegiado,
composto não por cientistas, mas,
sim, por políticos e burocratas.
Se assim for, o projeto de lei implantará uma deslavada politização da
ciência. Nem nesse ponto a peça será
original. Galileu Galilei, em 1634, foi
execrado por comprovar, com a ajuda
da sua inteligência, de telescópios e de
cálculos matemáticos, que a Terra girava em torno do Sol, contrariando a
ideologia de plantão, que acreditava
no inverso.
A descoberta da verdade, com base
na ciência, foi considerada uma inaceitável heresia pela burocracia religiosa. Por decisão da Inquisição, Galileu foi condenado à prisão perpétua
domiciliar.
Mesmo depois de morto (1642),
seus parentes não conseguiram satisfazer o seu desejo de ser enterrado no
túmulo de sua família na basílica da
Cruz Santa, em Florença. A burocracia os impediu.
Vamos repetir esse filme novamente?
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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