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KENNETH MAXWELL
De volta para o futuro
AS RESERVAS de petróleo iraquianas estão estimadas em
115 bilhões de barris. Recursos dessa ordem fazem das reservas iraquianas as terceiras maiores
do mundo. Nesta semana, cada um
desses barris estava cotado acima
dos US$ 140 no mercado internacional. Além disso, as reservas iraquianas de gás natural são avaliadas em mais de 3,17 trilhões de metros cúbicos.
A Mesopotâmia tem um longo
passado. Mas, no moderno Iraque,
é o petróleo que ocupa a posição
central. Os limites territoriais do
país, delineados nos anos 20 do século passado, após o colapso do Império Otomano, foram traçados pelas grandes empresas petrolíferas
ocidentais, que negociavam a divisão dos recursos petroleiros iraquianos. De fato, foi um lápis empunhado por um notável empresário e agenciador político, o armênio
Calouste Sarkis Gulbenkian, que
em 1928 traçou a famosa "linha
vermelha" no mapa do Oriente
Médio, que criou uma divisão geográfica aceitável para as grandes
empresas de petróleo ocidentais e
os governos de seus países.
Em 1929, a velha Turkish Petroleum Company teve seu nome alterado para Iraq Petroleum Company (IPC). Até a nacionalização da
IPC por Saddam Hussein, no começo dos anos 70, o acordo intermediado por Gulbenkian foi preservado. Havia quatro sócios
"maiores" entre as grandes empresas de petróleo: British Petroleum,
Royal Dutch Shell, Compagnie
Française des Pétroles e o grupo
norte-americano Esso Mobil. Cada
uma dessas companhias tinha uma
participação de 23,75% na IPC.
Gulbenkian era o único sócio "menor" -e reteve 5%. Foi por conta
dessa porcentagem na IPC que
Gulbenkian -que ficou imensamente rico com o acordo- se tornou conhecido como "Senhor 5%".
Nesta semana, quatro grandes
empresas de petróleo ocidentais
-Exxon Mobil, Shell, Total e BP-
estão aparentemente a ponto de
assinar contratos concedidos sem
licitação pelo governo iraquiano,
com o objetivo de explorar os recursos petrolíferos do país. O "New
York Times" afirma que uma equipe do Departamento de Estado
norte-americano ajudou a preparar os contratos.
Quando, depois da invasão do
Iraque em 2003, saqueadores atacaram e despojaram o museu e a biblioteca nacionais do Iraque, que
abrigavam os mais preciosos artefatos das mais antigas civilizações
do planeta, as tropas norte-americanas não interferiram. Só estavam
autorizadas a intervir para proteger o Ministério do Petróleo iraquiano, o ministério que nesta semana vai conceder contratos às
mesmas empresas petrolíferas
multinacionais que administraram
a Iraq Petroleum Company entre
1928 e 1972. A única coisa que falta
são os 5% de Gulbenkian.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras
nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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