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CARLOS HEITOR CONY
Ser ou estar ministro
RIO DE JANEIRO - Quando convidado para ministro da Cultura,
ainda no primeiro governo de Lula,
o cantor e compositor Gilberto Gil
levantou a premissa: não podia
aceitar um cargo que conflitaria
com sua vida profissional, que exigiria deslocamentos não compatíveis com uma função que deveria
ser exercida em regime de tempo
integral.
O presidente compreendeu a
questão levantada honestamente
pelo artista e confirmou o convite,
que afinal foi aceito. No segundo
governo, Lula manteve o ministro
que enfrentava o problema das verbas insuficientes para rodar a máquina oficial destinada a criar e desenvolver atos de cultura.
Não deixava de ser uma situação
estranha. Um funcionário graduado do governo brasileiro em freqüentes turnês artísticas pelo mundo afora. Difícil conciliar as duas
funções, sobretudo num ministério
sem verbas e incentivo oficial. Na
realidade, apesar de seu jogo de cintura pessoal e de sua habilidade política, Gil era criticado pela situação
e pela oposição, que cobrava dele
uma presença física no organograma da vida pública.
Para Gil, foi fácil repetir o acadêmico Eduardo Portella, que ao deixar o Ministério da Educação declarou que não era ministro mas estava ministro. Lembro um exemplo
antigo: ao ser nomeado prefeito de
Belo Horizonte, o médico Juscelino
Kubitschek avisou ao governador
que o nomeara sua intenção de continuar dando expediente no seu
consultório e num hospital. Na parte da manhã vestia o avental, clinicava e operava. Na parte da tarde,
cuidava da cidade criando metas de
trabalho.
Não deu para manter o esquema
por muito tempo. O volume das
obras o exigia, despiu o avental para
nunca mais vesti-lo. Sua vocação
era a administração. A vocação de
Gilberto é outra.
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