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ELIANE CANTANHÊDE
Fantasmas
BRASÍLIA - Se você espremer o
que vem sendo publicado sobre os
e-mails do "embaixador" das Farc
no Brasil, Olivério Medina, ao seu
"chanceler", Raúl Reyes, morto pelo Exército da Colômbia em março,
não sobra muita coisa.
Medina, que mora em Brasília, cita nas mensagens deputados do PT
e integrantes do governo Lula, como Celso Amorim e Marco Aurélio
Garcia. Sim, e daí? Poderia citar A, B
ou C, assim como qualquer um pode me citar ou citar você. Não há referência a gestos, ações ou movimentos concretos que caracterizem uma aliança com a guerrilha.
Até prova em contrário, os e-mails não têm conteúdo prático,
mas um forte componente político:
alguém do governo Álvaro Uribe está vazando textos e nomes no mínimo para constranger o Brasil.
Por quê? Ninguém sabe, nem
mesmo os interessados. A suspeita
é que o ministro da Defesa, Juan
Manuel Santos, candidato à sucessão de Uribe, queira endurecer ainda mais a política interna.
O resultado é que ninguém fala
mais em Daniel Dantas, e o novo foco de investigação é se as Farc financiaram campanhas no Brasil e
se há vínculos entre o governo e o
PT com um grupo que seqüestra e
mata às centenas, ou milhares.
Por coincidência (sem ironia), a
revista colombiana "Câmbio" circulou com os e-mails e nomes justamente no dia da audiência pública promovida pelo Ministério da
Justiça sobre a reabertura da anistia, para processar torturadores.
Do outro lado desse Muro de Berlim à brasileira, militares reagiram
com sarcasmo. "O pessoal das Farc
está todo lá [na reunião]", disse um
oficial. Segundo ele, exagerando, os
que querem processar militares são
os mesmos que pagam fortunas em
indenizações para quem seqüestrou, assaltou bancos e explodiu
bombas -como as Farc...
Enfim, os e-mails da guerrilha
não provam nada, a não ser que setores do governo Uribe estão doidos para constranger o governo
brasileiro. E estão conseguindo.
elianec@uol.com.br
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