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Equilíbrio peculiar
Pujança dos emergentes,
que atenua crise dos
ricos, estará ameaçada
em caso de deflação
brusca de commodities
NO DEBATE sobre a mudança de tendência
nas contas externas
brasileiras, o primeiro
cuidado deveria ser o de evitar
comparações automáticas com o
ciclo de crises que o país atravessou entre 1994 e 2002. Daqueles
solavancos deve-se guardar a lição genérica de que nunca haverá crédito ilimitado para nações
que consomem mais dólares do
que obtêm com exportações.
Mas a implicação de fenômenos recentes, como o veloz aumento das importações brasileiras, é bem mais nuançada do que
foi no período anterior. Isso
ocorre basicamente porque a
economia internacional entrou
em uma fase diferente.
No início desta década, as nações emergentes começaram a se
recuperar da crise pela via tradicional, com o câmbio desvalorizado, o consumo interno restrito
e as exportações em alta. Os
EUA, por seu turno, também seguiram um conhecido modelo:
consumo doméstico em alta, estimulado pela expansão dos gastos do governo e atendido pelo
crescimento das importações.
Uma novidade começou a despontar no ano passado. Apesar
de Estados Unidos, Europa e Japão terem entrado em desaceleração, a atividade nas economias
emergentes manteve o ritmo
acelerado. O fenômeno foi possível graças a uma mudança de padrão no crescimento destes países, que passou a depender menos das vendas externas para o
mundo rico e mais do mercado
interno -bem como do redirecionamento das exportações para nações em desenvolvimento.
Dados do comércio externo
brasileiro publicados ontem pelo
jornal "Valor" propiciam um retrato em miniatura do que ocorre no planeta. Se forem computados apenas os volumes físicos
negociados, e não o valor monetário das transações, as exportações do Brasil para os EUA caíram 12% nos 12 meses até junho,
em relação ao período imediatamente anterior. Já as vendas para a Ásia, com destaque para a
China, subiram 10% na mesma
base de comparação. Para o Mercosul, o incremento foi de 15%.
Se o PIB americano cresceu
um pouco (0,8%) no segundo trimestre, foi porque o país conseguiu exportar mais, além de ter
importado menos. Inverteram-se os papéis: são temporariamente os EUA, com o consumo
doméstico e o valor do dólar deprimidos, que dependem da pujança do mundo emergente para
não entrarem em recessão.
A preocupação de países como
o Brasil concentra-se na hipótese de uma queda abrupta no preço das commodities, que dominam sua pauta de exportações.
Seria um evento com potencial
para alterar esse equilíbrio peculiar entre ricos e emergentes.
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