São Paulo, quarta-feira, 03 de setembro de 2008

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Editoriais

Cortina de fumaça

SE VALESSEM só os planos de governo, habitantes da maior metrópole do país estariam a caminho do paraíso atmosférico e climático. Na prática, contudo, as boas intenções são substituídas por emissões que só pioram o efeito estufa e a saúde da população.
A Prefeitura de São Paulo encaminhou à Câmara Municipal sua Política Municipal de Mudança do Clima, para reduzir a emissão de gases de efeito estufa em 30% até 2012 (com base em inventário de 2005). O governo do Estado prepara lei para consagrar meta parecida, diminuição de 20%, mas em relação a 1990. Até o governo federal promete, para o dia 23, um Plano Nacional de Mudança Climática.
Todos, pelo visto, querem pegar carona no bonde da preocupação com a mudança climática. Neste caso, planos significam literalmente esconder-se atrás de uma cortina de fumaça. Fumaça cheia de enxofre do óleo diesel brasileiro, entre os mais poluentes do mundo. E também da gasolina nacional, cuja queima ajuda a catapultar os níveis de ozônio, um dos poluentes que mais afetam o aparelho respiratório.
A revelação consta de reportagem publicada nesta Folha domingo passado: se a gasolina daqui seguisse exigentes padrões californianos, a produção de ozônio na Grande São Paulo cairia 43%, segundo estudo da USP. Lá, o combustível pode conter no máximo 4% de olefinas e 22% de compostos aromáticos, substâncias cruciais nas reações químicas que produzem ozônio na baixa atmosfera. No Brasil, até 30% e 45%, respectivamente.
Outra reportagem, quatro dias antes, apontara a gasolina brasileira como uma das mais caras do planeta. Perde só para alguns países europeus e mais cinco de outros continentes. O preço é alto por obra do próprio governo, pois o combustível ruim é gravado com impostos que montam a 50% do cobrado na bomba.
A Agência Nacional do Petróleo informa ter planos de reformular a especificação da gasolina, mas alega que a prioridade é diminuir enxofre no diesel. Prioridade que, decidida em 2002, ainda corre o risco de não se realizar no prazo previsto, janeiro de 2009. Planos e prioridades, sabem bem os brasileiros, facilmente se esvaem em fumaça.


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