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Editoriais
Cortina de fumaça
SE VALESSEM só os planos de
governo, habitantes da
maior metrópole do país estariam a caminho do paraíso atmosférico e climático. Na prática, contudo, as boas intenções
são substituídas por emissões
que só pioram o efeito estufa e a
saúde da população.
A Prefeitura de São Paulo encaminhou à Câmara Municipal
sua Política Municipal de Mudança do Clima, para reduzir a
emissão de gases de efeito estufa
em 30% até 2012 (com base em
inventário de 2005). O governo
do Estado prepara lei para consagrar meta parecida, diminuição de 20%, mas em relação a
1990. Até o governo federal promete, para o dia 23, um Plano
Nacional de Mudança Climática.
Todos, pelo visto, querem pegar carona no bonde da preocupação com a mudança climática.
Neste caso, planos significam literalmente esconder-se atrás de
uma cortina de fumaça. Fumaça
cheia de enxofre do óleo diesel
brasileiro, entre os mais poluentes do mundo. E também da gasolina nacional, cuja queima ajuda a catapultar os níveis de ozônio, um dos poluentes que mais
afetam o aparelho respiratório.
A revelação consta de reportagem publicada nesta Folha domingo passado: se a gasolina daqui seguisse exigentes padrões
californianos, a produção de
ozônio na Grande São Paulo cairia 43%, segundo estudo da USP.
Lá, o combustível pode conter
no máximo 4% de olefinas e 22%
de compostos aromáticos, substâncias cruciais nas reações químicas que produzem ozônio na
baixa atmosfera. No Brasil, até
30% e 45%, respectivamente.
Outra reportagem, quatro dias
antes, apontara a gasolina brasileira como uma das mais caras
do planeta. Perde só para alguns
países europeus e mais cinco de
outros continentes. O preço é alto por obra do próprio governo,
pois o combustível ruim é gravado com impostos que montam a
50% do cobrado na bomba.
A Agência Nacional do Petróleo informa ter planos de reformular a especificação da gasolina, mas alega que a prioridade é
diminuir enxofre no diesel. Prioridade que, decidida em 2002,
ainda corre o risco de não se realizar no prazo previsto, janeiro
de 2009. Planos e prioridades,
sabem bem os brasileiros, facilmente se esvaem em fumaça.
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