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CLÓVIS ROSSI
Perguntas, só por perguntar
SÃO PAULO - 1 - Se o delegado
Paulo Lacerda foi afastado da Abin
em benefício da "transparência" da
investigação sobre o grampo no telefone do presidente do Supremo
Tribunal Federal, Gilmar Mendes,
significa que ele, se mantido no cargo, "embaçaria" o processo?
2 - Se é assim, como a lógica elementar indica, não seria o caso de
demiti-lo em vez de afastá-lo temporariamente? Afinal, um funcionário suspeito de ser capaz de atrapalhar uma investigação não deve
chefiar nada, certo?
3 - Se Lacerda fez um bom trabalho na PF -e o fez, sim-, por que
agora humilhá-lo publicamente
com o afastamento que coloca em
suspeição sua lisura?
4 - Se Lacerda foi preventivamente afastado, por que não o foi também o general Jorge Félix, afinal,
superior hierárquico de Lacerda
como chefe do Gabinete de Segurança Institucional? A lógica não
deveria ser a mesma?
Ainda mais que o próprio general,
segundo a Folha, teria dito que a
principal hipótese para os grampos
é um ou mais funcionários da Abin
terem sido contratados pelo banqueiro Daniel Dantas para executar
o trabalho.
Se essa informação é correta, então o general demonstra ter "hipóteses" antes mesmo de a investigação começar, o que pode, ante seu
nível hierárquico, conduzir o processo investigatório a uma linha
que, de repente, é incorreta.
4 - Se, como já disse orgulhosamente o ministro da Justiça, Tarso
Genro, todo mundo deve falar ao
telefone com a "presunção" de que
alguém está ouvindo, por que os
chefes do crime organizado, mesmo quando presos, continuam falando ao telefone, até dos presídios,
com a maior tranqüilidade e, portanto, sem tal "presunção"?
Ou será que é mais difícil -além
de bem mais perigoso- grampear
prisioneiros condenados do que cidadãos em liberdade e sem crimes a
eles imputados?
crossi@uol.com.br
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