São Paulo, quarta-feira, 03 de setembro de 2008

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CLÓVIS ROSSI

Perguntas, só por perguntar

SÃO PAULO - 1 - Se o delegado Paulo Lacerda foi afastado da Abin em benefício da "transparência" da investigação sobre o grampo no telefone do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, significa que ele, se mantido no cargo, "embaçaria" o processo?
2 - Se é assim, como a lógica elementar indica, não seria o caso de demiti-lo em vez de afastá-lo temporariamente? Afinal, um funcionário suspeito de ser capaz de atrapalhar uma investigação não deve chefiar nada, certo?
3 - Se Lacerda fez um bom trabalho na PF -e o fez, sim-, por que agora humilhá-lo publicamente com o afastamento que coloca em suspeição sua lisura?
4 - Se Lacerda foi preventivamente afastado, por que não o foi também o general Jorge Félix, afinal, superior hierárquico de Lacerda como chefe do Gabinete de Segurança Institucional? A lógica não deveria ser a mesma?
Ainda mais que o próprio general, segundo a Folha, teria dito que a principal hipótese para os grampos é um ou mais funcionários da Abin terem sido contratados pelo banqueiro Daniel Dantas para executar o trabalho.
Se essa informação é correta, então o general demonstra ter "hipóteses" antes mesmo de a investigação começar, o que pode, ante seu nível hierárquico, conduzir o processo investigatório a uma linha que, de repente, é incorreta.
4 - Se, como já disse orgulhosamente o ministro da Justiça, Tarso Genro, todo mundo deve falar ao telefone com a "presunção" de que alguém está ouvindo, por que os chefes do crime organizado, mesmo quando presos, continuam falando ao telefone, até dos presídios, com a maior tranqüilidade e, portanto, sem tal "presunção"?
Ou será que é mais difícil -além de bem mais perigoso- grampear prisioneiros condenados do que cidadãos em liberdade e sem crimes a eles imputados?

crossi@uol.com.br



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