São Paulo, quarta-feira, 03 de setembro de 2008

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Investigação apreciativa

ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA


A atual geração tem um grande desafio e uma oportunidade única. Estamos passando por um momento de transição

PARTICIPEI recentemente de seminário organizado pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos) para apreciar uma palestra do professor David Cooperrider, da Case Western Reserve University.
Falou-nos sobre sustentabilidade, na perspectiva das oportunidades de negócios que surgem a cada dificuldade social que atualmente encontramos neste complexo mundo globalizado em que vivemos.
Ele é um pesquisador, ativista de conversações positivas como ferramentas de ativação do potencial humano e um propagador da chamada investigação apreciativa, metodologia de construção de inovação em comunidades e empresas.
A "appreciative inquiry", introduzida em 1980 por aquela universidade, foi definida como uma busca cooperativa do melhor nas pessoas, nas suas organizações e no mundo ao redor.
Envolve a descoberta sistemática de dar "vida" a um sistema quando ele está no seu estado mais eficaz e capaz em termos humanos, ecológicos e econômicos. A investigação apreciativa envolve a arte e a prática de fazer perguntas que reforcem a capacidade de um sistema de elevar o potencial positivo. Ela mobiliza a "investigação" artesanalmente na preparação de uma "pergunta positiva incondicional", envolvendo normalmente centenas ou, por vezes, milhares de pessoas.
A atual geração tem um grande desafio e uma oportunidade única. Estamos passando por um momento de transição em que os recursos escasseiam, obrigando os líderes de empresas a ter que operar com objetivos de competitividade de longo prazo.
Novas lideranças deverão criar um sistema de forças que tornem as fraquezas irrelevantes, superando os obstáculos a partir de ações positivas e inovadoras.
As gerações anteriores aprenderam com os erros e os acertos. Mas, agora, não temos mais espaço para errar.
Como estratégia para superar esse impasse, Cooperrider sugere desenvolvermos nossa capacidade de prever problemas e antecipar soluções por meio do uso de uma inteligência coletiva que só pode ser acessada por diálogos organizados e inspiradores, como é o caso da investigação apreciativa, metodologia criada e disseminada por ele em todo o mundo.
Foram apresentados diversos casos de sucesso da aplicação da investigação apreciativa em empresas norte-americanas de grande porte. De embalagens descartáveis feitas com fibras naturais à produção de areia fertilizante a partir de resíduos de fundição, mencionou uma série de inovações geradas em encontros promovidos pela investigação apreciativa.
Além do papel central das empresas no processo de tomada de consciência sobre a sustentabilidade do planeta, deve haver um protagonismo das instituições de ensino, que devem passar a formar desde já pessoas engajadas em conversações positivas que pautem a sustentabilidade como tema organizador das ações e do conhecimento humano.
Esse parece-me ser um ponto fundamental. Será nas universidades que esses conceitos terão que ser disseminados, para que os formandos adquiram uma nova visão a respeito de suas responsabilidades.
Citou o Brasil como um país de enorme potencial de inovação na busca de soluções sustentáveis. A diversidade de nossa natureza e a composição cultural variada de nosso povo estabelecem condições ideais para que nosso país se destaque como um centro potencial de diálogos de qualidade sobre sustentabilidade.
Reforçou a importância de trabalharmos pontos fortes em nossas empresas e instituições e na vida pessoal, promovendo as transformações necessárias para enfrentar desafios de curto, médio e longo prazo. As elites têm, mais do que nunca, uma responsabilidade fundamental acerca dos destinos do planeta Terra.
Refleti que, alguns anos atrás, se fosse convidado para um evento com esse objetivo, daria um rotundo "não tenho tempo a perder".
Hoje, ficamos com uma questão engasgada. Qual é o nosso papel nesse grande desafio? O que podemos fazer isoladamente ou em conjunto? Qual a contribuição esperada?
Saí do evento com a sensação de que, se realmente mobilizarmos nosso esforço criativo e buscarmos por meio da inovação soluções para problemas ambientais ou melhor utilização de energias renováveis, entre muitos outros, estaremos assim contribuindo para olhar o futuro com mais confiança.

ROBERTO TEIXEIRA DA COSTA , 73, economista, é sócio-fundador da Prospectiva Consultoria Brasileira de Assuntos Internacionais e membro do Todos pela Educação. Foi presidente do Conselho de Empresários da América Latina (1998-2000).

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