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APRENDIZADO DEMOCRÁTICO
Quase 120 milhões de brasileiros deverão ir hoje às urnas para escolher prefeitos e vereadores dos
5.562 municípios do país. A repetição da liturgia democrática -estas já
são as quintas eleições locais desde a
Constituição de 1988- pode abrir
espaço para o fastio e o desinteresse.
Com efeito, não são poucos os que se
queixam de que os políticos são todos iguais e de que mudanças benéficas para a sociedade, quando ocorrem, vêm em ritmo muito mais lento
do que o desejável.
É verdade que a persistência de alguns dos vícios do mundo político
chega a ser exasperante e que as diferenças ideológicas entre os partidos
vêm diminuindo. Há mesmo uma
nítida sensação de convergência para
o centro, o que tende a tirar um pouco do entusiasmo do eleitorado com
o pleito. Também é exato afirmar
que o poder público não tem primado por ser um dinâmico agente de
transformação social. Seria um erro,
contudo, atribuir essas mazelas ao
processo democrático. Ao contrário,
a melhor forma de combater o que
nos repugna na esfera política é
aprofundando a democracia.
A maturidade democrática é uma
sabedoria que se adquire através do
aprendizado, pelos acertos, mas,
principalmente, pelos erros. Lamenta-se que as campanhas tenham degenerado em puro marketing, isto é,
que tenham deixado de ser um espaço de apresentação de idéias e debate
de propostas para converter-se numa
caixa de ressonância em que o cidadão assiste a sofisticadas produções
televisivas que dizem exatamente
aquilo que as pesquisas apontam
que o eleitor quer ouvir.
Por outro lado, porém, o cidadão
aprendeu algo e já não se deixa apanhar tão facilmente pelas armadilhas
do velho populismo. Aos poucos, a
população vai até criando anticorpos
para os truques mais baratos dos
modernos marqueteiros. Não se devem, porém, nutrir ilusões. A demagogia sempre existiu e sempre existirá, sendo uma das dificuldades com
as quais as democracias têm de lidar.
O filósofo Platão, já no século 5º a.C.,
denunciava o problema dos manipuladores da vontade popular.
O remédio do aprofundamento da
democracia se impõe até pela ausência de alternativas. Uma das muitas
boas frases do estadista britânico
Winston Churchill é aquela que define a democracia como "a pior forma
de governo, exceto todas as outras
formas que têm sido experimentadas
de tempos em tempos". De fato, as
alternativas à democracia testadas ao
longo dos últimos cem anos se afiguraram como ensaios sinistros.
Pleitos municipais como o de hoje,
mais do que eleições para governos
estaduais e a Presidência, são uma
excelente oportunidade de aprendizado para o eleitor. A maior proximidade entre representantes e representados permite uma comparação
mais precisa do discurso do candidato com suas realizações depois de
empossado. É a partir dessa confrontação que o cidadão cria mecanismos de defesa contra o engodo.
Depois de cinco eleições locais e
quatro nacionais sob a égide da plena democracia, o eleitorado aprendeu alguma coisa. As figuras nacionais que se identificavam mais facilmente como grandes populistas foram varridas do cenário político. É
preciso agora que sigamos nesse caminho e aprimoremos nosso juízo
político.
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