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CARLOS HEITOR CONY
Do dever cívico
RIO DE JANEIRO - Costuma ser tranqüilo o dia das eleições em si. A baixaria da campanha faz uma pausa,
depois vem a choradeira, surgem as
impugnações, as surpresas. Mas o
comparecimento do eleitorado geralmente é pacífico e disciplinado.
Houve tempo em que tudo era diferente. Saía tiro, as urnas desapareciam, as atas eram falsificadas e a
apuração, nos dias seguintes, levava
semanas e era contestada pelos perdedores. Tanques de guerra nas ruas,
armas ensarilhadas em cada seção
eleitoral. Um cabo de polícia em algum lugar do território nacional, visivelmente embriagado, dava um tiro na cabine que a Justiça Eleitoral e
a imprensa chamavam de "indevassável". Nesse ponto, acho que houve
um avanço significativo no ato da
eleição. Uma ou outra exceção não
conta. A regra geral é boa.
Antes de conhecermos os resultados, de ficarmos alegres, tristes ou desesperados com o produto final da
eleição, o bom é que estamos livres da
campanha, da sucessão de caras, bocas e apelos na TV, nos jornais e nas
ruas. O que fazer? Ainda não foi encontrado um meio mais civilizado,
eficiente e indolor de colocar o candidato diante de seu eleitorado ou de
seu não-eleitorado.
Uma opinião generalizada na população é a de que os candidatos são
péssimos, nenhum deles convence
nos 15 segundos de que dispõem para
duas coisas impossíveis: resumir a vida inteira numa frase e resumir o futuro que nos compromete na outra
metade.
Tenho opinião contrária, como
sempre, pois aprecio o desfile dessas
caras que, umas pelas outras, demonstram boa vontade para com a
sociedade e confiança em si próprios.
Outro dia, fiz uma crônica sobre
um tal de Wanderley que ameaçava
vir aí. Seu slogan era: "Wanderley
vem aí". Não cheguei a ver a cara do
Wanderley, mas espero que ele venha mesmo.
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