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ELIANE CANTANHÊDE
Contagem regressiva
BRASÍLIA - Depois de tudo o que se disse de positivo sobre o processo de
transição, já vale um balanço. E o
saldo não parece tão positivo assim.
O momento é grandioso, o mundo
aplaude. Mas o resultado disso é que
o governo FHC começa a acabar dois
meses antes, o governo Lula passa a
gastar capital político e a "lua-de-mel" termina antes do tempo.
FHC dá entrevistas alardeando
uma contabilidade altamente favorável aos seus dois mandatos. Mas e o
governo? O que andam fazendo os
ministros? Que decisões têm tomado?
Se as há, ninguém sabe, ninguém vê.
Lula continua saltitante, em ritmo
de campanha. Percebe-se até um ar
de deslumbramento em gestos, trejeitos. Mas e o PT? E o presidente do
partido, José Dirceu? A equipe de
transição? Os líderes? Estão já se digladiando com os neo-aliados e com
os neo-oposicionistas. Sem saber qual
dos dois pode ser mais corrosivo.
Na comparação, FHC se comporta
como o estadista que recebe a TV
Globo no Alvorada, enquanto Lula
age como o candidato que pula de
programa em programa na Globo e
dá uma passada pelos demais canais.
FHC está na dele, a caminho de um
lugar de honra para ver e comentar
de bife acebolado a novo governo. Já
Lula deveria parar e pensar. Tudo
bem que festa é festa, povo é povo, e
ninguém quer ser rabugento. Mas
mito também é mito, e esse é o grande capital de Lula. O presidente não
pode virar o gorducho simpático e
barbudo igual ao dali da esquina.
A contagem é regressiva. Para FHC
desacelerar e para Lula acelerar. Não
pode perder em aura nem sofrer parte do desgaste do PT nas intensas negociações de temas nada simpáticos:
salário mínimo, superávit primário,
FMI, impostos. Seu governo ainda
nem começou.
Enquanto a transição mais democrática da história se resumia a fotos,
cenas, abraços e sorrisos, estava tudo
muito bem. Mas ela começa a ser
mais concreta, objetiva e, portanto,
difícil. Convém a Lula e ao PT se preservarem. Até porque a foto que realmente interessa é outra: a da posse.
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