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CARLOS HEITOR CONY
O fim das eras
RIO DE JANEIRO - Apesar das repetidas confissões aqui do cronista, que
não gosta nem entende de política, é
inevitável que ele receba e-mails perguntando: ""Como vai ser o governo
Lula?".
Uma pergunta idiota, pois nem
mesmo o novo presidente sabe como
será o seu governo. Se depender dele,
exclusivamente dele, será um governo de austeridade, norteado pelo
bem público e, em especial, pelo bem
da classe dos trabalhadores, que, afinal, é a sua classe de origem e da qual
é o primeiro representante a chegar
ao poder.
Por mais importante que seja a sua
personalidade, por mais que sejam
sinceras as suas intenções, o governo
não dependerá dele nem de suas
idéias -muito menos de suas boas
intenções. Tampouco de sua equipe,
por melhor que ela seja.
A humanidade como um todo, e
não somente o Brasil, atravessa uma
fase de mudanças vertiginosas e inesperadas. Um século durava um século, as transformações políticas, econômicas e sociais podiam ser medidas por eras.
A Idade Média, por exemplo, durou
800 anos. Segundo alguns historiadores, durou um pouco mais. A Era
Vargas durou 34 anos, da Revolução
de 30 à Revolução de 64. A era Collor
durou pouco mais de dois anos.
Até certo ponto, tanto a Idade Média como as eras de Vargas e de Collor duraram o que duraram pela permanência de variáveis que podiam
ser sustentadas pelo regime feudal,
pelo regime totalitário e pela esculhambação pessoal do colorato alagoano.
Hoje, as variáveis são invariavelmente imprevisíveis. Um ataque ao
Iraque, um novo 11 de setembro em
qualquer parte do mundo, um acidente ecológico de graves proporções
podem alterar instantaneamente o
panorama nacional dos países.
Uma tecla apertada no computador de um Banco Central, aqui (ou,
como diria o conselheiro Acácio,
alhures), botaria tudo de cabeça para
baixo.
Há espaço para a esperança. Apesar de tudo.
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