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MUDANÇAS NA CHINA
Desde o início das reformas,
em 1979, o Estado chinês tem
demonstrado uma impressionante
capacidade de intervenção, explorando com êxito as oportunidades surgidas para promover o desenvolvimento e a modernização industrial.
Mediante a conjugação de várias
formas de parceria do setor privado
com o Estado, configurando "propriedades parcialmente estatais", a
economia chinesa cresceu a taxas de
9% nos últimos 24 anos.
Para consolidar as atuais formas de
acumulação privada e de regulação
pelo mercado, o Partido Comunista
propôs à Assembléia Popular Nacional uma alteração na Constituição,
garantindo à propriedade privada o
mesmo estatuto legal da pública.
"A propriedade privada obtida legalmente não deverá ser violada",
afirma o novo dispositivo. Espera-se
que a proteção constitucional à propriedade privada, em um país dominado pelo sistema estatal, fomente o
investimento e a iniciativa popular.
Até o momento, o Estado chinês e
as políticas públicas têm sido capazes de articular o sistema de planejamento central e a expansão dos mercados privados. Como afirmou o historiador britânico Jonathan D. Spence, diretor da Universidade Yale
(EUA), em entrevista publicada nesta
Folha: "O sistema chinês atual está
bem distante dos objetivos revolucionários ou dos grandes movimentos
de massa orquestrados por Mao Tse-tung nos anos 60". Todavia ainda
permanece um "comunismo à chinesa", sob forte liderança, com
apoio dos militares: os líderes políticos -diz Spence- continuam a tomar decisões pelo país inteiro.
O dinamismo da economia da China, bem como o peso de sua população e de seu poderio militar, já parece
ter assegurado ao país papel relevante no cenário mundial. Muitos prevêem que o gigante asiático será o
grande pólo alternativo aos EUA.
Todavia, a despeito de todos os
avanços, os chineses ainda têm pela
frente desafios de enormes proporções, entre eles a falta de energia, o
elevado desemprego urbano (provocado pela acelerada migração rural) e
um sistema financeiro complicado,
com grande parcela de créditos incobráveis. A questão alimentar é também altamente preocupante. A agricultura estagnou-se na última década com a carência de água e os limites das terras cultiváveis. A necessidade de importar alimentos e combustíveis fósseis parece justificar a
agressiva estratégia chinesa de superávit comercial, acumulação de reservas e estabilidade da moeda.
Há também problemas nas fronteiras, sobretudo com a Coréia do Norte e Taiwan. Como a ilha continua a
ser considerada uma província rebelde, Pequim procura implementar a
estratégia "um país, dois sistemas"
para absorver seus capitais, prevendo uma futura integração.
No plano internacional, os chineses parecem dispostos a aprofundar
a integração econômica com os tigres asiáticos e o Japão e a competir
com os EUA. Ao que tudo indica,
portanto, alianças entre os Estados e
políticas de apoio aos seus capitais
continuarão, ao contrário do que
previam alguns, impulsionando
transformações na ordem econômica mundial. A história não terminou.
E uma das incógnitas que ela encerra
é se -e como- a evolução do sistema chinês poderá resultar num regime que mereça um dia ser chamado
de democrático.
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