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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Água, o mundo e o Brasil
Passamos pela primavera, chegamos ao verão e os nossos reservatórios de água continuam baixíssimos.
Lendo um artigo de Lester R. Brown,
do Worldwatch Institute de Washington, vejo que a calamidade é mundial.
O aumento acelerado da demanda está baixando os lençóis freáticos em todos os continentes.
De onde vem a explosão da demanda por água? Em primeiro lugar, do
próprio crescimento populacional.
Embora as taxas tenham desacelerado
em relação ao século passado, o planeta enfrenta desafios demográficos colossais. A população do mundo aumenta em 80 milhões de pessoas por
ano! Vejam esses números: na primeira metade deste século, o planeta terá
3 bilhões de habitantes adicionais. Só a
Índia aumentará sua população em
520 milhões de pessoas. A China, em
mais de 210 milhões. E o Paquistão em
mais 200 milhões. Quase 1 bilhão de
habitantes em 50 anos!
Com esse aumento extraordinário
de gente, aquele especialista em assuntos ambientais prevê o esgotamento anual dos aquíferos que hoje
possuem 160 bilhões de metros cúbicos de água (160 bilhões de toneladas).
Considerando que, para se produzir
uma tonelada de grãos, são necessárias mil toneladas de água, os referidos
reservatórios serão suficientes para
produzir 160 milhões de toneladas de
grãos. Como o consumo per capita de
grãos está em torno de 300 kg por ano,
os 160 bilhões de toneladas de água
permitirão alimentar 480 milhões de
pessoas. Só a Índia, China e Paquistão
terão adicionado 930 milhões de pessoas até 2050. Ou seja, o mundo terá
comida produzida por um equilíbrio
insustentável de água. É um macroproblema que preocupa -e muito.
Além do crescimento da população,
a urbanização e a industrialização
pressionam pela água. O próprio aumento da renda per capita leva as pessoas a consumirem mais carne, ovos e
laticínios, que, por sua vez, dependem
muito de grãos e, portanto, de água.
Cada vez que se dobra o consumo de
grãos, dobra-se o consumo de água.
Os países que não têm água não tem
grãos, e são obrigados a importá-los.
Essa é a maneira que encontraram para comprar água. China, Índia, Paquistão, Egito, México e outros países
que têm populações gigantescas serão
grandes compradores de água por
muitas décadas.
Os países que ainda dispõem de
água -como o Brasil, que possui cerca de 20% da água do mundo- estarão na posição de vendedores por um
bom tempo. Trata-se de uma vantagem comparativa preciosa, pois até
agora não se inventou um bom substituto para a água.
Mas essa estratégia de comprar e
vender água terá seus limites. Os países não poderão se furtar de implementar um rigorosíssimo controle
populacional. Sim, porque 70% da
água disponível é utilizada para a produção de alimentos. A urbanização, a
industrialização e o aumento de renda
são fatores secundários -o que não
significa um convite para esbanjar
água nas cidades.
Isso vale também para o Brasil, a
despeito de sua situação privilegiada
-sem contar que, exatamente devido
a isso, poderemos sofrer pressões comerciais e até militares por causa da
água. Nesse campo, toda a atenção é
pouca.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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