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CARLOS HEITOR CONY
Túnel no fim da luz
RIO DE JANEIRO - Não me dei ao respeito de tentar um resumo de todos
os recentes pronunciamentos do presidente da República no final do ano
e no começo deste. Desconfio que ele
não foi humilde nem pessimista. Em
seus melhores momentos de campanha eleitoral, que foram muitos, ele
nunca prometeu tanto a tantos.
Em linhas gerais, todos os seus discursos e declarações poderiam ter um
único refrão: há luz no fim do túnel.
O túnel é o profundo buraco que ele
chama de "herança maldita", túnel
cavado por outros governos. A luz é
ele quem promete e assegura. Olhando-se bem na treva atual, os bem-intencionados, os puros de coração poderão ver os minúsculos pontos luminosos que anunciam o esplendor do
sol.
Nem todos pensam como ele. Para
muitos, estamos em plena luz, radiosa luz que jorra de sua figura carismática, de seu passado glorioso, de
sua lenda messiânica. O diabo é que,
no final desta luz própria, que ele
trouxe consigo de forma igualmente
luminosa, adivinha-se a proximidade de um túnel, longo e tortuoso túnel, quando a fonte de energia que
emana de sua pessoa estiver consumida pelos atos e fatos de seu governo. Até aqui, como nos minutos iniciais de uma partida de futebol (Lula
gosta, usa e abusa de metáforas assim, parece que são as que melhor
entende), ele não passou de um
aquecimento, um estudo da tática do
adversário. Botou em campo um time experimental, para dar início aos
trabalhos, mas somente agora entrarão os titulares para valer.
Evidente que para não curtir um
placar adverso nesses primeiros instantes, levar dois ou três gols de saída, ele plantou um trio que será o
núcleo do time inteiro. E confia não
apenas em Deus, a quem tanto invoca, e no povo que tanto o admira,
mas no FMI, que continuará elogiando a sua atuação.
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