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LULA E OS FUNDAMENTOS
Houve mudança de humor
nos mercados financeiros, o
que levou o dólar a nova alta e pressionou o índice Bovespa para baixo,
tudo embalado por relatórios pessimistas de bancos estrangeiros.
A incerteza eleitoral explica em parte as apreensões dos investidores. O
mais forte candidato da oposição,
Luiz Inácio Lula da Silva, registra ganhos nas pesquisas eleitorais. Enquanto isso, o "anti-Lula" ainda não
surgiu, diferentemente do que ocorreu nas duas eleições que consagraram Fernando Henrique Cardoso.
O risco econômico associado à incerteza política seria muito menor,
entretanto, fossem sólidos os fundamentos da economia brasileira. O
longo ajuste ultraliberal aprofundado por FHC provocou uma fragilidade econômica, fiscal e financeira que
se tornou ainda mais aguda num cenário de crise internacional.
Dizendo-se sempre a favor de modernizar a economia e estabilizar a
taxa de câmbio, as equipes se sucederam no Banco Central, e o ministro
da Fazenda, Pedro Malan, bateu o recorde de permanência no cargo. Mas
o apego a uma mesma receita foi insuficiente para dar solidez e sustentação aos fundamentos.
Na última batalha retórica contra
analistas e organismos estrangeiros,
o presidente do BC, Armínio Fraga,
tentou descartar a tese de que a dívida
externa brasileira é preocupante;
FHC disse que o Brasil é uma espécie
de ilha de tranquilidade. Preocupa o
Banco Mundial que a dívida externa
brasileira represente 10% do total
dos débitos dos países emergentes.
Fraga argumenta que a dívida é de
"só" 40% do PIB.
Há outros indicadores do preocupante endividamento externo, incentivado pelo governo federal para fazer perdurar a sensação do real forte.
Um deles é o que relaciona a dívida
externa às exportações, esboçando a
capacidade de o país captar dólares
sem aumentar a dívida externa nem
depender de privatizações e investimentos diretos. O passivo externo líquido - soma da dívida externa e do
estoque de investimento estrangeiro,
deduzidas as reservas cambiais e os
investimentos e créditos de brasileiros no exterior- representava 394%
das exportações em 1994. Essa relação atingiu, em dezembro de 2001,
os 712%. As reservas internacionais,
que eram 28% desse passivo em
1995, chegaram no ano passado a
apenas 8,6%.
Uma lição da crise cambial é que
não basta desvalorizar para exportar
mais. O real perdeu valor, mas os saldos comerciais vêm sobretudo da
contenção das importações. FHC
anunciou a meta de US$ 100 bilhões
de exportações, a ser atingida em
2002. Em abril, o montante das vendas externas foi de US$ 56 bilhões
(acumulado de 12 meses). Sem exportar o suficiente, o país não pode
crescer para não importar demais. O
governo segura o crescimento com
juros estratosféricos. E não há desenvolvimento possível com juros escorchantes e fragilidade fiscal.
Está em questão a política econômica centrada no otimismo quanto à
liberalização dos mercados globais.
As ilusões desse modelo camuflaram
a precária base da política econômica
sob FHC. Com Lula ou sem Lula, o
próximo governo estará aprisionado
num modelo inadequado do ponto
de vista econômico e financeiro.
A percepção dessa incerteza estrutural tem levado bancos e investidores a subir a guarda.
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