|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
A cerveja de Colombo a Churchill
O IBGE concluiu uma pesquisa
comparando os bens produzidos
em 1999 e em 1979. Isso permite registrar as mudanças em cada item ao longo de 20 anos.
Você sabia que a cerveja saiu do 41º
lugar em consumo e passou para 4º
lugar? Hoje em dia, a cerveja só perde
para os automóveis, que têm um valor
unitário muito alto, e para a gasolina e
o óleo diesel, que têm um volume de
consumo colossal.
É irônico que isso ocorra em um país
pobre e de grande desigualdade social.
Mas essa é a realidade. Como a exportação de cerveja é irrisória, nós, brasileiros, nos incumbimos de beber os 8
bilhões de litros aqui produzidos.
Quando se consideram os brasileiros
maiores de 15 anos, isso dá uns 80 litros por pessoa, em média.
Como este é o país das desigualdades, onde há várias pessoas que não
bebem nada, há muita gente bebendo
160 litros ou 240 litros por ano. É mesmo uma paixão nacional.
No Brasil, o verão, o Carnaval e o futebol impulsionam as vendas de cerveja. Mas ela é popular em todo o
mundo, mesmo nos países frios. A
cerveja é a segunda bebida mais antiga
da humanidade (depois do vinho). Os
historiadores registram a sua existência na Mesopotâmia há 10 mil anos. E
dizem que os indígenas receberam
Cristóvão Colombo com uma cuia de
cerveja feita com milho. Relatam também que George Washington era tão
fanático que carregava consigo um livrinho de receitas onde anotava variações de cervejas.
Quando li a notícia do IBGE, fiquei
pensando: o que seria do Brasil se um
presidente decidisse baixar uma medida provisória proibindo a venda de
cerveja? Seria uma loucura. E nem há
razão para isso. Mas foi o que ocorreu
nos Estados Unidos em 1920, tendo
durado até 1933.
Franklin D. Roosevelt, que de bobo
não tinha nada, colocou em sua plataforma o fim da Lei Seca. Ganhou estourado. Seu primeiro ato no governo
foi a revogação da "impensada" lei.
Hoje, os alemães são os campeões da
cerveja, sendo seguidos pelos tchecos
e pelos ingleses. Mas vale a pena anotar que os brasileiros, que bebem 8 bilhões de litros de cerveja, apesar de
mal colocados no "ranking", tomam
cerca de 21 bilhões de litros de leite por
ano. Isso dá cerca de 123 litros per capita, pois aqui há que se incluir os 170
milhões de brasileiros. Esse consumo
é apenas 50% maior do de cerveja.
Em todo caso, é bom saber que o
Brasil também está aumentando a
produção de leite. Em 1999, foram 19,8
bilhões de litros; em 2000, 20,8 bilhões;
em 2001, 21 bilhões; e, para 2002, estima-se 21,6 bilhões. Ademais, os maiores consumidores de leite o fazem por
obrigação, enquanto os de cerveja o
fazem por satisfação.
O crescimento observado pelo IBGE
é animador, pois, tomada com moderação, a cerveja é tão benéfica quanto
o vinho. Como bem dizia Winston
Churchill: "Ao longo de minha vida,
obtive muito mais da cerveja do que a
cerveja obteve de mim".
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: No meio do caminho Próximo Texto: Frases
Índice
|