São Paulo, domingo, 05 de maio de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Pobres paralelos
BEREL AIZENSTEIN
A Jordânia, que não queria palestinos em seu território, promoveu um massacre com milhares de vítimas, conhecido como Setembro Negro. Para vingar seus mortos, os palestinos saíram pelo mundo matando judeus, como na Olimpíada de Munique, em 1973. Além disso, infelizmente o presidente da Autoridade Palestina não elaborou um "projeto de Estado", como todos gostariam. Se esse projeto existisse, possivelmente ele teria mais aliados na Liga Árabe e mais países interessados em financiar seus programas. Seu único projeto conhecido é educacional: em todas as cartilhas das escolas palestinas, o bê-a-bá das crianças começa com a letra "M", do verbo "matar", e o sujeito é "judeus". Tanto isso é verdade que o próprio Hamas proibiu esse uso maquiavélico de adolescentes em ataques suicidas para popularizar a causa palestina. Como é que "cidadãos (palestinos) mal armados" conseguem matar 23 soldados israelenses bem armados em Jenin? Embora isso seja estranho até para o mais ignorante em conflitos, o professor emérito também ousa comparar essa cidade palestina ao bombardeio pelos nazistas do gueto de Varsóvia, onde os combatentes usaram apenas revólveres e coquetéis molotov contra tanques, canhões e aviões alemães. Mas o que espanta mesmo é a relação que faz entre as ações militares de Israel em cidades sob jurisdição palestina, como represália aos atos terroristas, e a violência em São Paulo. Segundo o professor Rogério Cezar, São Paulo tem o dobro da população de Israel e dez vezes mais mortes violentas do que as vítimas do terror; e, nem por isso, haverá uma guerra de extermínio nas favelas. Uma coisa não tem nada a ver com a outra, mas a qualquer um ocorreria a pergunta inevitável: e se um bandido desvairado detonasse seu cinto de explosivos num ponto de concentração de jovens em Campinas, ou São Paulo, e -Deus nos livre- matasse 20 deles? A que se atribuiria o ato? À política econômica do governo, ao desemprego ou à má distribuição de renda? Um "intelectual", ou não, poderia dizer que não há relação entre uma coisa e outra. E não há mesmo. Mas é preciso inventar e sofismar. Ou, como diz, Guterman, "a pobreza evidente dos paralelismos como os que os problemas do Oriente Médio têm gerado é, antes de tudo, perigosa". Apesar disso, ninguém acredita que o professor Rogério Cezar seja partidário do fanatismo de uma pequena parcela do povo palestino que prega o terror, os explosivos e as hemorragias, ingredientes que contam histórias de histerias. Berel Aizenstein, 70, é secretário-geral da Conib (Confederação Israelita do Brasil). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Rubem Alves: Ganhei coragem Próximo Texto: Painel do Leitor Índice |
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