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MARCOS NOBRE
Para não perder o bonde
É QUASE UM clichê dizer que
eleições municipais tratam de
municípios, e não de política
nacional. Muitas vezes, isso aparece até como um elogio do bairro,
como uma virtude de olhar para a
vizinhança.
É difícil saber se isso é mesmo
verdade para quem vota. Mais que
isso, é difícil saber por que essa celebração do poste de iluminação
seria em si mesma uma virtude.
É claro que olhar para problemas
cotidianos da convivência urbana é
importante. Ainda mais num país
com cidades tão cheias de problemas. Mas, se for só isso, a discussão
se empobrece e a política vira um
torneio de inspetor de bairro.
Nenhum município é apenas assunto de quem vota nele. É assunto
de todo mundo, é assunto nacional.
E "município" quer dizer coisas
muito diferentes. Imaginar que
uma cidade de 10 milhões de habitantes tenha problemas como os de
uma cidade de 5.000 vai muito
além de um elogio do bairrismo. É
tolice mesmo.
Algumas cidades têm papel estratégico no desenvolvimento do
país inclusive. É o caso de São
Paulo. É uma cidade que tem potencial para se tornar metrópole de
referência global, uma condição
que poucos lugares no mundo hoje
têm.
O desafio é fazer isso de uma
maneira consciente, pensada. São
Paulo já é metrópole de referência
para a América do Sul pelo seu tamanho e pela importância econômica. Falta agora é fazer dela, com
planejamento, um ponto de referência global.
Para isso, é preciso fazer o óbvio.
Mas fazer o óbvio na casa dos muitos bilhões de reais. E com um planejamento de pelo menos 20 anos,
com um primeiro teste importante
já marcado para a Copa do Mundo
de 2014.
O mais importante aqui é multiplicar o acesso a educação de qualidade em todos os níveis e a computadores e à internet. Programas de
transferência de renda abrangentes são decisivos para isso. E o fomento à cultura tem de ir muito
além das leis de incentivo atuais.
Para a malha de transporte ser
eficiente e de qualidade, o investimento em metrô subterrâneo e de
superfície, em 20 anos, tem de pelo
menos igualar tudo o que já foi gasto nos últimos 40 anos. É preciso
oferecer condições vantajosas para
que companhias de perfil global se
instalem na cidade. Facilidade de
instalação e impostos decrescentes
no tempo, por exemplo.
Isso mostra que fazer esse óbvio
com vistas a uma inserção global
também ajuda a resolver os problemas cotidianos da cidade. Faz com
que o inspetor de bairro encontre o
produtor de software de Seul sem
ficar desconfiado.
A hora de fazer isso é agora. Porque quem perder esse bonde vai ficar só com bonde mesmo.
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna.
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