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CARLOS HEITOR CONY
A razão do sucesso
RIO DE JANEIRO - São coisas
que acontecem com qualquer um,
até mesmo comigo. Bem verdade
que nunca cheguei a tanto. As surpresas que desabaram sobre mim
foram poucas e pífias. Mas tenho
um amigo que pode perfeitamente
ocupar o pódio do incrível, fantástico e maravilhoso.
Começa que ele tem 1,60 m, altura abaixo da média do brasileiro comum, insuficiente para se destacar
do resto do gado. Além disso, é feio,
um pouco vesgo e com cabelo mal
distribuído em cima do crânio. Era
citado como o careca mais cabeludo
e como o cabeludo mais careca da
cidade.
Mesmo assim, fazia sucesso em
tudo o que se metia ou que se metia
com ele. Sobretudo, era o bendito
entre as mulheres, as melhores e as
mais cobiçadas mulheres do Rio daquele tempo. Não tinha uma profissão definida, diziam que havia herdado alguma coisa dos pais, morava
sozinho, mas dormia todas as noites bem acompanhado. Às vezes,
com duas companhias. Ele ficava
no meio.
No final dos anos 80, chegou ao
Brasil uma milionária canadense
que havia sido Miss Mundo e ainda
tinha muito caldo para esbanjar. O
que deram em cima da mulher não
foi mole. Escolhe aqui, escolhe ali,
ela não resistiu e ficou com ele durante a sua temporada carioca.
Deu-lhe tudo, até mesmo ações de
diversas companhias multinacionais e uma vila em Portofino.
Todos queriam saber o segredo
do seu sucesso ou da sua sorte -o
que daria no mesmo. Tratava-se de
um bem dotado fora de série, como
o Porfírio Rubirosa? Nada disso.
Era medíocre na cama e na mesa,
seu prato predileto era almôndegas
com macarrão, com queijo e goiabada à sobremesa.
Como disse, era meu amigo. Um
dia perguntei-lhe a razão de tanto
sucesso e ele respondeu com candura: "Não sei, só faço o que é
necessário".
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