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ELIANE CANTANHÊDE
Chifre em cabeça de cavalo
BRASÍLIA - Alfredo Stroessner foi
ditador do Paraguai de 1954 a 1989
e não era flor que se cheirasse -que
o digam suas vítimas e descendentes. Mas, ao ser chutado do poder,
veio parar no Brasil, instalado cômoda e tranqüilamente na capital
da República como exilado político,
até morrer em 2006 de morte morrida, aos 93 anos de idade.
Isso não significa que o governo
brasileiro financiasse o terror paraguaio, nem articulasse um golpe no
país vizinho, nem... nem coisa nenhuma. Apenas concedeu-lhe um
direito internacionalmente reconhecido: o asilo político.
Agora, há um deus-nos-acuda
porque o Brasil acolhe o cidadão colombiano Olivério Medina, ex-padre que se apresenta como "embaixador" das Farc e cuja mulher, uma
brasileira, trabalha no Ministério
da Pesca. Entonces, pergunta-se: 1)
o país que acolheu Stroessner por
17 anos não pode fazê-lo com Medina por quê? 2) nem ele nem sua mulher podem trabalhar e devem morrer de fome?
Essa discussão está fora de controle. A crítica que se deve fazer ao
governo Lula é outra, por ter sido
tão rápido e tão eficiente ao entregar os dois boxeadores cubanos de
bandeja (ou melhor, de avião venezuelano) para o regime nada amistoso de Fidel Castro. Não por dar a
Medina um status de asilado.
É como os e-mails das Farc citando brasileiros: isso não prova nada,
muito menos participação na guerrilha, em contrabando de armas e
cocaína, exportação de revoluções e
articulações para derrubar Uribe.
Estamos carecas de saber das antigas ligações de setores da esquerda brasileira com as Farc, mas as
Farc mudaram, o PT mudou, a turma do Planalto está feliz da vida
com o poder. Ninguém mais fala em
reformas, quanto mais em revolução em país alheio!
No máximo, pode-se falar em saídas negociadas entre Uribe e Farc,
para evitar um mar de sangue. E
daí? Com tantos problemas reais, é
pouco para a gente ficar botando
chifre em cabeça de cavalo.
elianec@uol.com.br
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