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CLÓVIS ROSSI
"La p... oligarquia"
SÃO PAULO - Guillermo Moreno,
o secretário argentino de Comércio, é um personagem polêmico,
que chegou a ser retratado como
Napoleão de hospício em capa recente de revista. Moreno é tido como responsável pela manipulação
dos índices de inflação. Nem mesmo partidários do governo acreditam nos números oficiais.
Pois bem. Moreno foi flagrado
gritando contra "la p... oligarquia"
em um dos atos públicos que o governo convocou para enfrentar
idênticos movimentos dos ruralistas em guerra com o casal Kirchner.
Se fosse apenas o grito de um Napoleão de hospício, passaria por
uma dessas excentricidades abundantes na história da Argentina e da
América Latina.
O ponto é que o casal Kirchner
parece endossar a tese e o grito, calão à parte. A oligarquia, não só na
Argentina, tem de fato incontáveis
pecados, entre eles o de ter instigado/apoiado golpes militares aos
quais se seguiram violações maciças aos direitos humanos. Na Argentina, então, não dá para não chamar de genocídio o que houve no
período 1976/83.
O problema é que usar uma retórica dos anos 70 no século 21 é complicado demais. Para começar, pelo
fato de que a oligarquia, se tomada
como sinônimo de capitalismo puro e duro, ganhou a guerra ideológica contra a única alternativa disponível no mercado das idéias, o comunismo. Há matizes entre um e
outro? Há, mas não há espaço para
discuti-los.
Hoje, gritar contra la "la p... oligarquia" é igual a ladrar para o Sol.
Ele nascerá no dia seguinte impávido do mesmo jeito. Além disso, nem
Miguel Bonasso, que foi líder dos
Montoneros, os maiores "gritões"
contra "la p... oligarquia" nos anos
70, aceita hoje a simplificação que
Moreno fez em praça pública.
A vida podia ser mais fácil quando
tudo era preto ou branco. Hoje, gritar preto ou branco ou "la p... oligarquia" é só folclore.
crossi@uol.com.br
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