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SÃO PAULO, SP
A cidade de São Paulo, embora
encontre-se nos patamares
mais elevados de desenvolvimento
econômico do país, assistiu na última década, juntamente com o Estado, à deterioração de alguns indicadores de qualidade vida. O recente relatório sobre o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM),
realizado pelo Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento
(Pnud), parece sugerir que o antigo
modelo de metrópole industrial que
marcou a ascensão da "locomotiva"
paulista tem sido atingido pela mudança nos parâmetros econômicos
ocorrida não apenas internamente
mas também em escala global.
Essa é uma das explicações possíveis para a elevação da pobreza e da
indigência da metrópole em contraste com situações regionais de menor
concentração urbana e industrial.
Enquanto no conjunto dos municípios brasileiros caiu o número de indigentes e pobres, em São Paulo ele
subiu de forma expressiva entre os
anos de 1991 e 2000.
Não é casual que esse período coincida com o recrudescimento de um
processo de transformação da economia, que gerou retração no uso de
mão-de-obra, "desindustrialização"
e baixos índices de crescimento. O
Brasil, que cresceu a taxas elevadas
até o final dos anos 70, passou a gerar resultados decepcionantes nas
duas últimas décadas, como já havia
detectado o também recente estudo
do IBGE sobre o século 20.
Embora diversos fatores tenham
contribuído para esse cenário, é uma
constatação que o baixo rendimento
da economia coincide com o ajuste
implantado no país com vistas a inseri-lo na nova ordem global. Se
houve avanços a registrar, também
uma série de problemas se agravou.
De certa forma as dificuldades se
cristalizam no alto endividamento
público, que tem exigido políticas
defensivas e de geração de elevados
superávits nas contas governamentais. Esse quadro teria provocado impactos mais dramáticos em São Paulo, por ser a maior concentração urbana e industrial do país.
É essa a hipótese do economista
Marcio Pochmann, professor da
Unicamp e secretário do Trabalho da
prefeitura paulistana. Ele acredita
que a liberalização econômica, o
ajuste fiscal e a diminuição do Estado
teriam afetado de modo mais importantes as cidades mais ricas, especialmente São Paulo. Isso poderia ser
demonstrado, entre outros aspectos,
pela maior transferência de receitas
tributárias para a União, a redução
do Orçamento do município (de R$
17 bilhões em 1992 para R$ 11 bilhões
este ano), bem como pela crise na
oferta de emprego.
A nova ordem econômica e a persistência do baixo crescimento indicam que seria irrealista nutrir ilusões
nostálgicas sobre um retorno de São
Paulo aos antigos padrões de acumulação de capital e expansão industrial. Isso não significa que a cidade
tenha se tornado um caso cronicamente inviável. Ao contrário, é possível supor que a metrópole ainda reúna energias e recursos para se adaptar à nova realidade e conter a deterioração de seus índices de desenvolvimento humano. Se conseguirá, de
fato, fazê-lo, só o tempo dirá.
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