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CARLOS HEITOR CONY
O cheiro de Lula
RIO DE JANEIRO - O índice de aprovação do presidente Lula baixou dez
pontos. Mas continua alto. Na realidade, começa a perder gordura, a dispersar o entusiasmo que formou o tecido adiposo de sua extraordinária
popularidade. Talvez venha a cair
mais alguns pontos até se fixar no
tradicional nicho que lhe garante de
30% a 35% do eleitorado nacional.
Plataforma confortável de qualquer
personagem de nossa vida pública.
Para o grosso da população, ele
continua simpático, terra-a-terra, fica bem ao lado dos poderosos, das
mulheres bonitas, botando bonés na
cabeça, abraçando artistas. Transmite o cheiro de povo que um general
presidente, não faz muito, dizia desprezar, preferindo o dos cavalos.
A moeda tem duas faces. O mesmo
Lula que desperta admiração quando tenta controlar a bola numa pelada e morde uma dessas empadas que
mataram o guarda não transmite a
mesma empatia quando fica fechado
em gabinetes, recebendo sua equipe
de trabalho. É um papel ainda novo
em sua carreira, a de administrador,
de "capi dei tutti capi" da complicada família que nos governa.
Os resultados até agora são pífios. O
mercado de trabalho continua em
crise, assustando o empregado e desesperando o desempregado. A concentração de renda permanece obscena como dizia FHC e cada vez torna-se mais improvável o espetáculo de
crescimento, tão solenemente prometido durante a campanha eleitoral e
nos primeiros meses de governo.
Lula jogou sua prioridade máxima
na reforma do Estado, já reformado
dezenas de vezes, pois, quando se obtém uma reforma consistente, a realidade já a superou, criando um novo
cenário para o qual a reforma obtida
não está adequada. É como reformar
uma escola com 40 alunos, ampliando-a para 400 alunos, mas, quando a
escola fica pronta, são 4.000 os alunos
que precisam dela.
O desenvolvimento tem um custo e
custa caro. Monitorado pelo FMI, o
Brasil pagará menos custo, mas terá
um desenvolvimento às avessas.
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