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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Observações sobre
o excessivo endividamento
O consumismo costuma ser condenado como hábito de conduta
humana, especialmente quando realizado com recursos que vão além da
capacidade de compra do consumidor.
Ninguém deve se endividar indefinidamente. Esse é o ensinamento do
bom senso. Mas, por incrível que pareça, a economia mundial está pendurada no consumismo americano. Os
dados são espantosos. Entre 1995 e
2002, 60% do crescimento do resto do
mundo decorreu da economia dos Estados Unidos. Isso foi reflexo, por sua
vez, da extraordinária explosão do
consumo naquele país, que cresceu
3,7% ao ano -o dobro do crescimento do consumo nos demais países ricos. Foi isso que levou a revista "The
Economist" a afirmar que a economia
mundial está voando com apenas um
motor ("Flying on one engine", "The
Economist", 20 de setembro de 2003).
Isso é grave. A sobrevivência do
mundo está atrelada ao dinheiro de
plástico dos que gastam mais do que
ganham e dos empréstimos estrangeiros que são direcionados aos Estados
Unidos, cuja dívida interna chegou a
5% do PIB em 2002 -um recorde histórico!
De maior credor nos anos 80, os Estados Unidos se transformaram no
maior devedor do mundo. O Orçamento do governo saiu de um superávit de 2% do PIB em 2000 para um déficit de 4% em 2003.
O que acontecerá com o resto do
mundo se os americanos seguirem a
lei do bom senso e, como tal, pararem
de gastar, de importar e de se endividar? Será o caos! O mundo não está
preparado para tamanho solavanco.
Mas até quando o quadro continuará assim tão frágil? Ninguém sabe. A
Alemanha e o Japão poderiam ser as
novas locomotivas da economia mundial -seguidos da China. Mas isso deve demorar muito. Os três países têm
problemas sérios a serem superados.
Os alemães estão apenas iniciando
um complexo processo de redução de
impostos e de excesso de proteção na
área da seguridade social. O Japão
continua se ressentindo de uma recessão que já dura dez anos. E a China,
apesar de sua pujança, continua com
um sistema financeiro incipiente, que,
a qualquer momento, pode trazer más
surpresas -sem contar o enorme desafio de sustentar e de proteger adequadamente uma população de 1,3 bilhão de habitantes.
Tudo indica que essa virada vá demorar. O que pode acontecer no meio
do caminho? Será que os Estados Unidos conseguirão reduzir o seu endividamento de forma gradual sem afetar
as exportações e o crescimento do resto do mundo? Ou será que o endividamento crescente vai levar aquele gigante a recorrer ao FMI? Seria irônico,
para não dizer trágico.
Quando se observa o comportamento da economia mundial com essa ótica, a dependência assusta e deixa
uma lição para o Brasil. Precisamos
trabalhar muito mais, aumentar a eficiência de quase todos os setores e ganhar competitividade em âmbito
mundial para, com isso, explorar, gradualmente, outras opções no cenário
internacional.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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