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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
O mundo, o petróleo e a água
É triste saber que milhares de
pessoas estão sem água no Iraque
por força de uma disputa por petróleo.
Estima-se que as atuais reservas de
petróleo no mundo, cerca de 1 trilhão
de barris, deverão durar pelo menos
pelos próximos 40 anos. O consumo é
da ordem de 75 milhões de barris por
dia, ou seja, 27 bilhões de barris por
ano, o que representa um gasto anual
de US$ 675 bilhões. Está claro que, em
relação à água, a preocupação é bem
menor, muito embora também seja
crucial para o desenvolvimento de todos os países do globo. O gasto com
água aproxima-se de US$ 165 bilhões
anualmente, isto é, um quarto do que
é gasto em petróleo.
Não é à toa que, dos 6,2 bilhões de
habitantes da Terra, 1,2 bilhão não
tem água para beber e 2,4 bilhões não
contam nem sequer com saneamento
seguro. Inúmeras doenças grassam
devido à inexistência de água ou à sua
má qualidade.
Apesar da enorme quantidade de
água no planeta (13,6 bilhões de km3),
97,2% referem-se aos oceanos e 2,15%
às calotas polares. Restam então para
os habitantes deste planeta apenas
0,65% da água existente, sendo que
0,62% é água subterrânea, o que significa que 95% da água disponível deve
ser retirada do subsolo.
A água já é um bem escasso, e a sua
demanda aumenta muito mais depressa do que o crescimento da população. Na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada
em 2002 na África do Sul, as nações assumiram um compromisso de aumentar em 50% a oferta de água até o
ano 2015.
Para tanto, o mundo terá de ligar
água a 300 mil pessoas diariamente (!),
mesmo porque, ao longo dos próximos 13 anos, a população do planeta
aumentará em 1 bilhão de pessoas.
O futuro está marcado. A água será o
bem mais escasso para a sobrevivência dos povos. O homem terá de descobrir novas fontes de água e aprender a economizá-la.
O desperdício é enorme. O consumo
de água per capita nos Estados Unidos
é de aproximadamente 5.000 litros
por dia. Isso é três vezes o consumo da
Europa, que já é alto. No ano de 2000,
em Cingapura, cada habitante dispunha de apenas 471 litros de água por
dia. Na Jordânia, 381. Na Arábia Saudita, 325. Nos Emirados Árabes, 174. E
no Kuait, apenas 30 litros por dia!
A China e a Índia estão preocupadas. O lençol freático baixa sistematicamente todos os anos. É uma ameaça
pavorosa para dois países que possuem 2,3 bilhões de habitantes e dependem muito de irrigação.
Feliz é o Brasil, que possui 20% da
água do mundo. Isso é um privilégio.
Mas aqui também temos muito o que
economizar. O esbanjamento começa
no banho matinal dos que exageram
no chuveiro, estende-se pela lavagem
do carro, adentra pela limpeza da calçada e termina com as perdas dos encanamentos furados das ruas das cidades.
A água é um bem muito precioso.
Temos de guardá-lo com carinho e
também defendê-lo, pois não estamos
livres da cobiça dos países ricos e belicosos. Hoje é o petróleo. Amanhã poderá ser a água. Hoje é o deserto do
Oriente Médio. Amanhã poderá ser a
bacia amazônica.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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