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CARLOS HEITOR CONY
A bandeira e a mortalha
RIO DE JANEIRO - Outro dia, em texto para a Pensata (Folha Online), expressei a tristeza (a minha, evidentemente) pela histeria generalizada
contra os Estados Unidos. É bem verdade que há motivos de sobra para a
queima das bandeiras com listras e
estrelas, aliás, uma bandeira bonita,
bem diagramada, com excelente
combinação de cores.
Além da bandeira que aprendemos
a admirar e a respeitar, não acredito
que haja um único habitante do planeta Terra que não deva, direta ou indiretamente, alguma coisa aos Estados Unidos. Citei a lâmpada elétrica,
o gramofone, a dupla Fred Astaire e
Ginger Rogers e poderia citar mil outros produtos que nos melhoraram a
vida e o humor.
Justamente por isso, pelo respeito
que temos àquele pedaço de pano que
tanto admiramos, é dolorosa essa
queima universal de bandeiras norte-americanas em todos os países do
mundo, inclusive no próprio território dos Estados Unidos.
Lembro aquele verso exaltado de
Castro Alves, no final de famoso poema: "Andrada! Arranca este pendão
dos ares! Colombo! Fecha a porta dos
teus mares!".
Invocando o auriverde pendão da
sua terra, o poeta diz que preferiria
ver a sua bandeira rota na batalha
antes que servisse a um povo de mortalha. E é por aí, nessa função de mortalha, que se explica e até certo ponto
se justifica a manifestação pirotécnica
contra as listras e estrelas da bandeira
norte-americana.
Esmagar um povo sob o pretexto de
dar-lhe liberdade, de livrá-lo de um
tirano, não convenceu a opinião pública de nenhuma nação civilizada.
Em dezenas de países dominados por
tiranos iguais, a atitude dos Estados
Unidos foi a de apoio militar, econômico e político.
E, com a proximidade do fim de
uma guerra absurda, ficou nítida a
verdadeira motivação do massacre. O
butim, embora dividido com a Inglaterra, é mesmo a segunda maior reserva de petróleo do mundo.
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