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ELIANE CANTANHÊDE
À espera do governo PT
BRASÍLIA - O grande mérito do governo Lula, nestes cem dias que completa na quinta-feira, é ter sido conservador na economia e ter conquistado a boa vontade dos mercados.
Mas o grande problema do governo
Lula é justamente estar sendo conservador na economia e gerando desconfiança em setores produtivos internos. E os juros? E os empregos?
Os fatores da equação de Lula:
1) a economia -que não deu um
passo à frente e talvez tenha dado
meio para trás (dois aumentos sucessivos de juros e maior superávit primário, com corte de investimentos);
2) a área social -cuja foto mostra
boas caras, boas intenções e muitos
ministros para pouco resultado. Antes, quem apontava paralisia era
"viúva tucana". Agora, são os números: basta ler a reportagem da Folha
de domingo passado comprovando
que mesmo o dinheiro disponível
não saiu do lugar porque não tinha
para onde ir. Faltam projetos.
3) a maioria do Congresso -que
funcionou para a votação sobre o sistema financeiro e pode até funcionar
para as reformas tributária e da Previdência graças a uma particularidade: as resistências são no próprio
PT e entre os aliados (como o PDT),
enquanto a oposição vota em peso.
Por convicção. Nessa troca de papéis,
tucanos e pefelistas estão tendo a
chance de votar no governo Lula o
que não conseguiram no de FHC.
Os cem primeiros dias foram sem
sobressaltos graves, como muitos temiam, mas também sem mudanças
visíveis, como a grande maioria do
eleitorado queria. E o governo sofreu
de uma certa esquizofrenia.
Tudo isso, dizem cardeais do governo e do PT, por um objetivo maior:
criar condições hoje para as mudanças de amanhã. Ou, numa outra ótica, para os sobressaltos. Segundo
eles, os cem dias devem ser vistos como prenúncio de nova inversão:
quando o grande mérito for agradar
os setores produtivos e o grande problema for desagradar os grandes
mercados financeiros internacionais.
Aí, sim, um governo de Lula, do PT
e da esquerda estará começando. Isto
é, se realmente vier a começar.
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