|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
A caminho do autismo
SÃO PAULO - Não bastasse estar seguindo, até agora, a mesma política
econômica do governo Fernando
Henrique Cardoso, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva aproxima-se do
antecessor também no autismo que
começa a atacá-lo.
Sintomas desse terrível mal: Lula
deslumbra-se com feitos que NÃO foram praticados. Primeiro, festejou ter
sido o governante mais aplaudido
em Davos, mentira que algum bajulador lhe soprou aos ouvidos.
Agora, diz que o Brasil jamais viveu
uma fase de tanto otimismo. Falso,
de novo. Pelo menos nos primeiros
meses do Plano Cruzado e do Plano
Real, o otimismo foi, no mínimo,
igual, talvez maior.
Não chega, no entanto, a ser surpreendente a viagem do presidente
na direção do autismo. A festa que
seu governo está fazendo pelos êxitos
na economia é também uma festa pelo que NÃO foi feito.
Vejamos: tanto o risco-país como o
dólar subiram, a partir do ano passado, pela combinação de dois fatores.
Um era a vulnerabilidade externa do
Brasil. O outro, o receio dos mercados
de que o PT, uma vez no poder, fizesse o que a pátria financeira considera
barbeiragem.
Bom, a vulnerabilidade externa se
reduziu, ao menos provisoriamente,
em função dos saldos comerciais recordes, produzidos, essencialmente,
pela alta do dólar. Não foram nem o
PT nem o governo que produziram a
alta do dólar.
O PT no poder também NÃO fez
barbeiragem, sempre de acordo com
os critérios do mercado, pela simples
e boa razão de que NÃO fez nada. Ou
seja, NÃO mexeu uma vírgula das
políticas adotadas pelo governo anterior, a não ser para radicalizá-las
(aumento do superávit fiscal e da taxa de juros).
Nada contra a queda do risco-país
e do dólar. Mas dá para festejar
quando não se criou, até agora, um
único e mísero emprego (ao contrário) nem aumentou um centavo o
consumo nem há perspectivas de, a
curto prazo, ocorrer uma coisa ou a
outra?
Texto Anterior: Editoriais: EPIDEMIA GLOBAL? Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: À espera do governo PT Índice
|