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Foguetório
Incontinência verbal e disparates marcam declarações de ministros do governo Lula sobre temas polêmicos
FOGOS de artifício não são
fora de propósito nesta
época do ano, mas o primeiro escalão do governo
Lula tem-se caracterizado por
excessos de estrépito e pirotecnia. Os resultados estão longe de
se mostrarem deslumbrantes.
O ministro do Meio Ambiente,
Carlos Minc, abriu a fila no início
da semana, declarando que "acabou a moleza dos usineiros do
Nordeste". O petardo retórico
veio a propósito de uma elevada
multa por crimes ambientais
aplicada às usinas de cana-de-açúcar de Pernambuco.
Nada mais correto do que reprimir os danos causados ao
pouco que resta da Mata Atlântica. Todavia, a mesma multa foi
aplicada indiscriminadamente
às 24 usinas do Estado, uma vez
que o Ibama se diz impossibilitado de aferir as responsabilidades
específicas de cada uma delas.
Tudo indica, assim, que tende a
ser fugaz o brilho da investida,
face às contestações judiciais
que previsivelmente deflagrará.
No mesmo dia em que Minc
hasteava a bandeira contra os
usineiros, o ministro da Defesa,
Nelson Jobim, dava novas mostras de que a coerência não predomina nos arraiais governistas.
A região amazônica, disse Jobim, "não pode ser uma coleção
de árvores para o lazer de estrangeiros". Acrescentou que, "se nós
considerarmos a Amazônia como uma reserva ambiental absoluta, nós precisamos matar os 21
milhões de pessoas que moram
lá". O costumeiro procedimento
de caricaturar o ambientalismo
para melhor atacá-lo já contou
com formulações menos esfarrapadas do que esta.
O disparate em torno do assunto elevou-se a novas altitudes, entretanto, com as últimas
considerações do presidente Lula. Entoando o estribilho da "internacionalização da Amazônia",
Lula julgou apropriado levantar
um bizarro contra-exemplo:
"Ninguém quer internacionalizar a Nasa". Fosse, ao menos, o
Alasca... mas a vertiginosa parábola do raciocínio intimida qualquer esforço de interpretação.
Perdido no horizonte o enigmático balão de ensaio do Planalto, a atenção do observador
pode passar ao âmbito mais terreno do gabinete do ministro da
Justiça, Tarso Genro, onde não
faltaram ocasionais despropósitos e estalos de salão. O tema foram as críticas do presidente do
Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, a vazamentos de
informações, na sua opinião intimidatórios, feitos pela Polícia
Federal.
Na Polícia Federal? "Lá não
tem vazamento", disse Tarso
Genro. "Não é regra vazamento",
complementou. Na dúvida, os
que acompanham o cotidiano do
governo Lula farão bem se taparem os ouvidos.
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